domingo, 5 de fevereiro de 2012

DESTINADA - CAPÍTULO 1






          Há novas forças trabalhando na Morada da Noite. Algumas delas ameaçam sua estabilidade. Zoey está finalmente em casa, segura, ao lado do guerreiro Stark, se preparando para enfrentar Neferet. Kalona lançou seu poder sobre Rephain. E, após terem sido presenteados por Nyx com uma parte humana, Rephaim e Stevie Rae estão finalmente juntos – isso se ele puder andar no caminho da Deusa e ficar livre da sombra de seu pai... Há também o belo e misterioso Aurox, um adolescente que é mais ou menos humano. Apenas Neferet sabe que ele foi criado para ser sua maior arma. Mas Zoey pode sentir a parte de sua alma que ainda é humana. Há algo estranhamente familiar nele. Será que a verdadeira natureza de Neferet será revelada antes que ele consiga silenciar a todos? E Zoey será capaz de tocar a parte humana de Aurox na hora de proteger a ele, e a todos, a partir de seu próprio destino? Desvende todos esses mistérios nesse emocionante capítulo da série House of Night.




1


AROUX


          A carne do humano era macia e suculenta.

          Foi uma surpresa o fato de ter sido tão fácil destruí-lo e fazer o seu coração fraco parar de bater.

- Leve-me para o norte de Tulsa. Eu quero sair à noite – ela disse. Foi com essa ordem que a noite deles começou.
 
         - Sim, Deusa – ele respondera instantaneamente, saindo cheio de vida do canto da varanda no topo do prédio no qual ele tinha sido feito.
 
        - Não me chame de Deusa. Chame-me... – ela parecera contemplativa – Sacerdotisa. – Seus lábios carnudos, rubros e brilhantes se curvaram em um sorriso. – Acho que é melhor se todo  mundo me chamar simplesmente de Sacerdotisa, pelo menos por um breve período.
 
          Aurox cruzou sua mão em punho no peito, fazendo um gesto que ele instintivamente sabia ser de um tempo antigo, embora, de algum modo, achasse aquilo estranho e forçado.
 
          - Sim, Sacerdotisa.
   
          A Sacerdotisa passara rápido por ele, gesticulando imperiosamente para que ele a seguisse.
 
          E ele a seguira.
 
        Ele havia sido criado para segui-la. Para receber suas ordens. Para obedecer aos seus comandos.
 
        Então, entraram em uma coisa que a Sacerdotisa chara de carro, e o mundo voara. A Sacerdotisa ordenou que ele entendesse o funcionamento daquilo.
 
          Ele observara e aprendera, como ela tinha mandado.
 
          Pararam e saíram do carro.
 
         A rua tinha um cheiro de morte, podridão, depravação e imundice.
 
         - Sacerdotisa, este lugar não...
 
       - Proteja-me! – Ela respondeu rispidamente. – Mas não seja protetor! Eu sempre vou aonde quero. É o seu trabalho, ou melhor, o seu propósito, derrotar os meus inimigos. E criar inimigos é o meu destino. Observe. Reaja quando eu ordenar que você me proteja. Isso é tudo o que eu exijo de você.
 
          - Sim, Sacerdotisa – ele disse.
 
         O mundo moderno era um lugar confuso. Tantos sons inconstantes. Tanta coisa que ele não conhecia. Ele faria como a Sacerdotisa ordenara. Ele iria cumprir o propósito para o qual fora criado e...
 
            Um homem deu um passo para frente, bloqueando o caminho da Sacerdotisa.
 
       - Você é bonita demais para estar aqui neste beco tão tarde só com um garoto para te acompanhar – os olhos dele se arregalaram quando ele viu as tatuagens da Sacerdotisa. – Então, vampira, você deu uma parada aqui para usar esse garoto como um lanchinho, é? Que tal você me dar essa bolsa e então eu e você vamos falar sobre como é estar com um homem de verdade, hein?
 
           A Sacerdotisa suspirou e pareceu entediada.
 
           - Você está errado em ambas as suposições: eu não sou simplesmente uma vampira e ele não é um garoto.
 
           - Ei, o que você quer dizer com isso?
 
           A Sacerdotisa ignorou o homem e olhou por sobre o ombro para Aurox.
 
          - Agora você deve me proteger. Mostre-me que tipo de arma eu comando.
 
       Ele a obedeceu sem pestanejar. Aurox se aproximou do homem sem hesitar. Com um movimento rápido, Aurox cravou seus polegares nos olhos arregalados do homem, o que fez a gritaria começar.
 
          O pavor do homem o inundou, alimentando-o. Tão simplesmente como respirar, Aurox inalou a dor que ele estava causando. O poder do medo do homem se dilatou dentro dele, latejando quente e frio. Aurox sentiu suas mãos se endurecendo, mudando, tornando-se algo mais. O que eram dedos normais viraram garras. Ele as puxou dos olhos do homem quando o sangue começou a vazar dos ouvidos dele. Com o poder emprestado da dor e do medo, Aurox levantou o homem, e o arremessou com força contra o muro do prédio mais próximo.
 
           O homem berrou de novo.
 
          Que excitação maravilhosa e terrível! Aurox sentiu mais ondulações de transformações sobre o seu corpo. Meros pés humanos tornaram-se patas do diabo. Os músculos de suas pernas se engrossaram. Seu peito inchou e rasgou a camiseta que ele estava usando. E o melhor de tudo, Aurox sentiu os chifres grossos e mortais que cresceram na sua testa.
 
         No momento em que três amigos do homem correram para o beco para ajudá-lo, ele tinha parado de gritar.
 
         Aurox deixou o homem na sujeira e se virou para se colocar entre a Sacerdotisa e aqueles que acreditavam que poderiam causar algum mal a ela.
 
        - Que merda é essa? – o primeiro homem chegou correndo e parou de repente.
 
         - Nunca vi nada parecido com isso – disse o segundo homem.
Aurox já estava absorvendo o medo que começava a irradiar deles. Sua pele pulsava com aquele fogo frio.
 
         - Aquilo são chifres? Ah, merda, não! Tô fora! – o terceiro homem se virou e correu por onde tinha vindo. Os outros dois começaram a se afastar devagar, com os olhos arregalados, em choque e olhando fixamente.
 
          Aurox se virou para a Sacerdotisa.
 
         - Qual é a sua ordem? – em alguma parte distante de sua mente, ele ficou surpreso com o som da sua voz, em como ela tinha ficado tão gutural, tão bestial.
 
          - A dor deles deixa você mais forte – a Sacerdotisa pareceu satisfeita. – E diferente, mais feroz – ela olhou para os dois homens em retirada e o seu carnudo lábio superior se levantou em um riso de escárnio. – Não é interessante? Mate-os.
 
          Aurox se moveu tão rapidamente que o homem mais próximo não teve nenhuma chance de escapar. 
        
        Ele espetou o peito do homem com seus chifres e o levantou, fazendo ele se debater, berrar e sujar as próprias calças de medo.
 
         Isso deixou Aurox ainda mais poderoso.
 
         Com uma forte sacudida de cabeça, o homem espetado voou para a parede e depois para o chão, encolhido e silencioso, ao lado do primeiro homem.
 
          O outro homem não fugiu. Em vez disso, ele pegou uma faca longa e de aparência perigosa e arremeteu contra Aurox.
 
         Aurox fez uma finta para o lado e então, quando o homem se desequilibrou, ele pisou com força com sua pata sobre o pé dele, rasgando o seu rosto enquanto o homem caía para a frente.
 
         Com a respiração ofegante, Aurox olhou os corpos de seus inimigos derrotados. Ele se voltou para a Sacerdotisa.
 
         - Muito bem – ela disse sem emoção na voz. – Vamos sair desse lugar antes que as autoridades apareçam.
 
          Aurox a seguiu. Ele andou pesadamente, suas patas escavavam sulcos no beco sujo. Fechou suas garras em punho ao seu lado, enquanto tentava compreender a tempestade emocional que fluía pelo seu corpo, levando com ela o poder que havia alimentado o seu frenesi de combate.
Fraco. Ele se sentia fraco. E mais. Havia algo mais.
 
         - O que é? – ela perguntou de modo ríspido quando ele hesitou antes de entrar no carro de novo.
 
          Ele balançou a cabeça.
 
          - Não sei. Eu me sinto...
 
           Ela gargalhou.
 
          - Você não sente absolutamente nada. Você obviamente está pensando demais nisso. Minha faca não sente. Meu revólver não sente. Você é minha arma; você mata. Lide com isso.
 
        - Sim Sacerdotisa. – Aurox entrou no carro e deixou o mundo ficar para trás em ritmo acelerado. Eu não penso. Eu não sinto. Eu sou uma arma.

AROUX


 
        - Por que você está parado aqui olhando para mim? – A Sacerdotisa perguntou a ele, encarando-o com seus gélidos olhos verdes.
 
          - Eu aguardo as suas ordens, Sacerdotisa – ele respondeu automaticamente, pensando em como era possível que ele ativesse desagradado. Eles tinham acabado de voltar para a cobertura no alto do majestoso edifício chamado Mayo. Aurox havia andado até a varanda e simplesmente ficara ali parado, em silêncio, olhando para a Sacerdotisa.
 
          Ela expirou o ar com força.
 
          - Eu não tenho nenhuma ordem para você neste momento. E você precisa ficar sempre me encarando?
 
         Aurox olhou para longe, focando nas luzes da cidade e em como elas brilhavam de modo atraente contra o céu da noite.
 
          - Eu aguardo as suas ordens, Sacerdotisa – ele repetiu.
 
          - Ah, por todos os deuses! Quem iria imaginar que o Receptáculo criado para mim seria tão idiota quanto bonito?
 
          Aurox sentiu a mudança na atmosfera antes que as Trevas se materializassem da fumaça, da sombra e da noite.
 
          - Idiota, bonito e mortal...
 
          A voz ressoou na sua cabeça. O enorme touro branco tomou forma diante dele. Seu hálito era fétido, ainda que doce. Seu olhar era horrível e maravilhoso ao mesmo tempo. Ele era mistério, magia e caos juntos.
 
          Aurox se ajoelhou na frente da criatura.
 
          - Levante-se e vá lá para trás... – ela balançou a mão, dispensando-o com um gesto em direção às sombras do canto mais distante da varanda.
 
          - Não, prefiro que ele fique. Eu tenho prazer em observar minhas criações.
Aurox não sabia o que dizer. Essa criatura comandava a sua atenção, mas a Sacerdotisa comandava seu corpo.
 
          - Criações? – a Sacerdotisa colocou uma ênfase especial no final da palavra enquanto ela se movia languidamente em direção ao touro corpulento. – Você sempre cria presentes como esse para os seus seguidores?
 
          A risada do touro foi terrível, mas Aurox percebeu que a Sacerdotisa não se sobressaltou nem um pouco – em vez disso, ela parecia ser atraída cada vez mais para perto do animal gigantesco enquanto ele falava.
 
       - Que interessante! Você está mesmo me questionando. Você está com ciúmes, minha cara impiedosa?
 
          A Sacerdotisa acariciou os chifres do touro.
 
          - Tenho motivos para estar?
 
          O touro a acariciou com seu focinho. Onde ele tocou a Sacerdotisa, a seda do vestido dela se enrugou, expondo a carne macia e nua que estava por baixo.
 
          - Diga-me, qual você acha que é o propósito do meu presente a você? – o touro respondeu à pergunta da Sacerdotisa com outra pergunta.
 
          A Sacerdotisa piscou e balançou a cabeça, como se estivesse confusa. Então o olhar dela encontrou Aroux, ainda ajoelhado.
 
          - Meu mestre, o propósito dele é a proteção, e eu estou pronta para fazer o que você ordenar para agradecer.
 
          - Eu vou aceitar as suas deliciosas oferendas, mas eu devo explicar que Aroux não é só uma arma de proteção. Aroux tem um propósito, que é criar o caos.
 
          A Sacerdotisa inspirou profundamente, em choque.
 
          - Verdade? – ela perguntou com uma voz suave e reverente. – Através dessa única criatura eu posso comandar o caos?
Os olhos brancos do touro pareciam a lua se pondo.
 
          - Verdade. Ele é, de fato, uma única criatura, mas seu poder é vasto. Ele tem a capacidade de deixar o desastre no seu rastro. Ele é o Receptáculo, que é a manifestação dos seus sonhos mais profundos, e eles não são o mais completo e absoluto caos?
 
          - Sim, ah, sim – a Sacerdotisa suspirou as palavras. Ela se inclinou contra o pescoço do touro, acariciando seu dorso.
 
          - Ah, e o que você vai fazer com o caos agora que ele está sob o seu comando? Você vai botar abaixo as cidades dos humanos e governar como rainha vampira?
O sorriso da Sacerdotisa era bonito e horrível.
 
          - Rainha não. Deusa.
 
        - Deusa? Mas já há uma Deusa dos vampiros. Você sabe muito bem disso. Você já esteve a serviço dela.
 
          - Você quer dizer Nyx? A Deusa que permite que seus subordinados façam escolhas e tenham vontade própria? A Deusa que não intercede porque acredita com tanta força no mito do livre-arbítrio?
 
          Aurox achou que podia ouvir um sorriso na voz da besta e ficou imaginando como isso era possível.
 
           - Sim, eu me refiro a Nyx, Deusa dos vampiros e da noite. Você usaria o caos para desafiá-la?
 
          - Não. Eu usaria o caos para derrotá-la. E se o caos ameaçar a estrutura do mundo? Nyx não iria intervir e desafiar suas próprias regras para salvar seus filhos? E fazendo isso a Deusa não iria rescindir a sua lei que concede livre-arbítrio aos humanos e trair a si mesma? O que acontecerá então ao seu divino reinado se Nyx mudar o que ele está destinado a ser?
 
          - Eu não posso dizer, já que isso nunca aconteceu antes – o touro bufou como se estivesse se divertindo. – Mas é uma questão surpreendentemente interessante, e você sabe o quanto eu gosto de ser surpreendido.
 
          - Eu apenas espero poder continuar a surpreendê-lo muitas e muitas vezes, meu mestre.

          - Apenas é uma palavra tão pequena... – o touro disse.
          
          Aroux continuou ajoelhado na varanda muito tempo depois de a Sacerdotisa e o touro terem partido, deixando-o de lado e esquecido. Ele ficou onde havia sido deixado, encarando o céu.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Desculpas

Oi pessoal.

Infelizmente não poderei postar mais os capítulos de Midnight Sun. Estou muito chateada, pois houve um acidente com meu computador e perdi tudo. TUDO!!! Sniff..... Por isso, perdi todo o trabalho que fiz com Midnight Sun. Não sei se terei paciência para traduzí-lo novamente. Quem sabe mais para frente. 
Caso vocês tenham interesse em continuar lendo é só prucurara na internet que há muitas traduções. Infelizmente não estão com uma boa diagramação e tradução, mas serve para matarmos a curiosidade.
Quanto à fanfic de Erik Night, já tinha escrito um pouco do capítulo 6, mas perdi, e terei que começar novamente.
Peço desculpas de novo, mas essas coisas acontecem.

Jéssica


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Capítulo 2 Midnight Sun


Mais um capítulo de Midnight Sun....desculpem a demora.....

2.        LIVRO ABERTO


Deitei contra o macio banco de neve, deixando-a se modelar em volta de meu peso. Minha pele havia esfriado para combinar com o ar em minha volta, e as pequenas pecinhas de gelo pareciam como veludo na minha pele.

O céu acima estava claro, brilhante com estrelas, com um azul brilhante em alguns lugares, amarelo em outros. As estrelas criavam majestosas formas curvadas contra o universo negro – uma visão maravilhosa. Raramente lindo. Ou então, deveria ter sido raro. Seria, se eu pudesse realmente vê-lo.

Não estava ficando melhor. Passaram-se seis dias, seis dias desde que me escondi aqui na vazia região dos Denali, mas eu não estava mais perto da liberdade agora do que no primeiro momento em que senti o cheiro dela.

Quando olhei para o céu cheio de joias, era como se tivesse uma obstrução entre meus olhos e sua beleza. A obstrução era um rosto, só um rosto humano que não era marcável, mas eu não conseguia bani-lo de minha mente.

Ouvi os pensamentos se aproximando antes de poder ouvir os passos que os acompanhavam. O som de movimento era só um pequeno sussurro contra o pó.

Não fiquei surpreso por Tanya ter me seguido até aqui, ela estava se preparando pra essa conversa nos últimos dias, pensando até ter certeza do que queria dizer.

Ela pulou a alguns metros ao longe, parando na ponta de uma pedra negra e balançou em seus calcanhares descalços.

A pele de Tanya estava prata à luz das estrelas, e seus longos cachos loiros pareciam pálidos, parecia quase rosa com sua matiz avermelhada. Seus olhos âmbares brilharam enquanto me espiavam, meio enterrado na neve, seus lábios cheios se esticaram em um sorriso.

Raro. Se eu tivesse a possibilidade de realmente a ver. Suspirei.

Ela se curvou na ponta da pedra, a ponta de seus dedos tocando a pedra, seu corpo se encolheu.

“Bola de Canhão” ela pensou.

Ela se jogou no ar, sua forma se tornou uma escura sombra se retorcendo enquanto ela girava graciosamente entre as estrelas e eu. Ela se curvou em uma bola e se chocou contra a pilha de neve ao meu lado.

Uma brisa de neve voou a minha volta. As estrelas ficaram negras e eu estava enterrado bem fundo nos cristais gelados que pareciam penas.

Suspirei de novo, mas não me movi. A escuridão embaixo da neve não machucava e nem melhorava a visão. Eu ainda via o mesmo rosto.

– Edward?

E então a neve estava voando de novo enquanto Tanya me desenterrava. Ela tirou o pó de meu rosto imóvel, não encontrando meus olhos.

– Me desculpe – ela murmurou. – Foi uma brincadeira.

– Eu sei. Foi engraçado.

Sua boca se virou para baixo.

– Irina e Kate disseram que eu deveria te deixar sozinho. Elas acham que estou te incomodando.

– De jeito nenhum – eu a assegurei. – Pelo contrário, sou eu quem está sendo rude – abominavelmente rude. Sinto muito.

“Você vai pra casa, não vai?” Ela pensou.

– Eu não... decidi... isso ainda.

“Mas você não vai ficar aqui.” – Seu pensamento estava triste agora.

– Não. Não parece estar... ajudando.

Ela fez uma careta. – É minha culpa, não é?

– Claro que não. – Eu menti suavemente.

“Não seja um cavalheiro”.

Eu sorri.

“Eu deixo você desconfortável”. Ela acusou.

– Não.

Ela ergueu uma sobrancelha, sua expressão tão desacreditada que eu tive que rir. Uma curta risada, seguida por outro suspiro.

– Está bem – eu admiti. – Um pouquinho.

Ela suspirou também, e colocou seu queixo em suas mãos. Seus pensamentos estavam desapontados.

– Você é mil vezes mais encantadora que as estrelas, Tanya. Claro que você já sabe disso. Não deixe minha teimosia mexer com a sua confiança. – Eu ri pela indiferença daquilo.

– Não estou acostumada à rejeição – ela murmurou, e seu lábio de baixo formou um beiço atraente.

– Certamente que não. – Concordei, tentando sem sucesso bloquear seus pensamentos enquanto ela pensava em suas milhares de conquistas com sucesso. Geralmente Tanya preferia homens humanos – eles eram mais populares por uma coisa, e ainda tinham a vantagem de serem quentes e macios. E mais impulsivos, definitivamente.

– Succubus. – Provoquei, esperando interromper as imagens em sua cabeça.

Ela sorriu, mostrando os dentes. – A original.

Diferente de Carlisle, Tanya e suas irmãs descobriram suas consequências bem devagar. No fim, era seu afeto por homens que se virou contra a matança das irmãs. Agora que os homens que elas amavam... viviam.

– Quando você apareceu aqui, – Tanya disse devagar. – eu pensei que...

Eu sabia o que ela tinha pensado. E eu devia ter adivinhado que ela se sentiria desse jeito. Mas eu não estava pensando muito naquele momento.

– Você pensou que eu tivesse mudado de ideia.

– Sim. – Ela olhou feio.

– Eu me sinto horrível por brincar com suas expectativas, Tanya. Não tive a intenção – eu não estava pensando. Foi só que eu fui embora com... pressa.

– Eu não acredito que você vá me dizer o porquê...?

Eu sentei e envolvi meus braços em minhas pernas, me curvando defensivamente. – Eu não quero conversar sobre isso.

Tanya, Irina e Kate eram ótimas nessa vida que elas levavam. Melhores, em alguns modos, que Carlisle. Fora a proximidade insana das pessoas que deveriam ser – e um dia foram – sua presa, elas não cometiam erros. Eu estava muito envergonhado para admitir minha fraqueza à Tanya.

– Problemas com mulheres? – ela adivinhou, ignorando minha relutância.

Eu dei uma risada vazia. – Mas não do jeito que você quis dizer.

Ela ficou quieta então. Eu ouvi seus pensamentos enquanto ela corria por vários palpites, tentando adivinhar o significado das minhas palavras.

– Você não está nem perto. – Disse a ela.

– Uma pista? – Ela perguntou.

– Por favor, deixe pra lá, Tanya.

Ela ficou quieta de novo, ainda especulando. Eu a ignorei, tentando apreciar as estrelas em vão. Ela desistiu depois de um momento silencioso, e seus pensamentos tomaram uma nova direção.

Pra onde você vai, Edward, se você for embora? De volta pra Carlisle?”

Acho pouco provável – eu sussurrei.

Para onde eu iria? Eu não podia pensar em um lugar no mundo inteiro que tinha algum interesse para mim. Não havia nada que eu queria fazer ou ver. Porque não importava onde eu fosse, eu não iria pra nenhum lugar – só estaria fugindo.

Eu odiava isso. Quando eu virei um covarde?

Tanya jogou seu braço magro em volta de meus ombros. Eu endureci, mas não recuei por causa de seu toque. Ela fez isso como um conforto amigo. Quase.

– Eu acho que você vai voltar – ela disse, sua voz com uma pequena pista de seu perdido sotaque Russo. – Não importa o que é... ou quem for... que está te assombrando. Você vai enfrentar de cabeça erguida. Você é assim.

Seus pensamentos eram tão certos quanto suas palavras. Tentei aceitar a visão de mim mesmo que ela carregava em sua mente. O que enfrentava as coisas de cabeça erguida. Era prazeroso pensar em mim desse jeito de novo. Nunca duvidei de minha coragem, minha habilidade de enfrentar a dificuldade, antes daquela horrível hora na escola em uma aula de biologia há tão pouco tempo atrás.

Beijei sua bochecha, a empurrando levemente quando ela virou seu rosto em direção ao meu, com seus lábios já enrugados. Ela sorriu da minha rapidez.

– Obrigado, Tanya. Eu precisava ouvir isso.

Seus pensamentos se tornaram petulantes. – De nada, eu acho. Eu gostaria que você fosse um pouco mais razoável com as coisas, Edward.

Me desculpe, Tanya. Você sabe que é boa demais para mim. Eu só... não encontrei o que eu estou procurando ainda.

– Bem, se você for embora antes de eu te ver de novo... Adeus, Edward.

– Adeus, Tanya. – Enquanto eu disse as palavras, eu pude ver. Pude me ver indo embora. Sendo forte o suficiente para o único lugar que eu queria estar. – Obrigado de novo.

Ela estava em pé em um simples movimento, e então estava correndo, desaparecendo por entre a neve tão rapidamente que seus pés nem tinham tempo de afundar na neve; ela não deixava passos para trás. Ela não olhou para trás. Minha rejeição a incomodou mais do que antes, mesmo em seus pensamentos. Ela não queria me ver de novo antes de eu ir embora.

Minha boca se contorceu em desapontamento. Eu não gostava de machucar Tanya, embora seus sentimentos não fossem profundos, realmente puros, e nesse caso, não era algo que eu podia fazer o mesmo. Isso fez com que me sentisse menos do que um cavalheiro.

Coloquei o queixo em meus joelhos e olhei para as estrelas de novo, e então de repente estava ansioso para ir embora. Eu sabia que Alice iria me ver indo pra casa, que ela iria contar aos outros. Isso iria fazê-los felizes – especialmente Carlisle e Esme. Mas olhei para as estrelas mais um pouco, tentando ver além do rosto na minha cabeça. Entre eu e as luzes brilhantes no céu, um par de olhos marrom-chocolate me encarava, parecendo perguntar o que essa decisão significaria para ela. Claro, eu não podia ter certeza se era isso o que os olhos realmente queriam. Mesmo na minha imaginação, eu não podia ouvir seus pensamentos. Os olhos de Bella Swan continuavam a questionar, e uma visão desobstruída das estrelas continuava a me iludir. Com um suspiro forte, eu desisti, e levantei. Seu eu corresse, eu estaria no carro de Carlisle em menos de uma hora...

Com pressa para ver minha família – e querendo muito ser aquele Edward que enfrentava as coisas de cabeça erguida – corri pelo campo de neve iluminado pelas estrelas, não deixando nem traços de passos.


– Vai ficar tudo bem. – Alice respirou. Seus olhos estavam desfocados, e Jasper tinha uma de suas mãos levemente embaixo de seu cotovelo, a guiando para frente enquanto entrávamos no refeitório em um grupo próximo. Rosalie e Emmett foram à frente, parecendo ridiculamente guarda-costas no meio de um território inimigo. Rose parecia atenta, também, mas muito mais irritada do que protetora.

– É claro que vai – eu murmurei. O comportamento deles era ridículo. Se eu não tivesse certeza que eu poderia segurar o momento, eu teria ficado em casa.

A mudança inesperada de normal, até uma manhã agradável – tinha nevado à noite, e Emmett e Jasper tomaram vantagem da minha distração e me bombardearam com bolas de neve, quando eles ficaram entediados com a minha falta de resposta, eles se viraram um contra o outro – para essa vigilância que era demais, teria sido cômico se não fosse tão irritante.

– Ela não está aqui ainda, mas o jeito que ela irá entrar... ela não vai estar a favor do vento se nos sentarmos no nosso lugar de sempre.

É claro que vamos nos sentar no nosso lugar de sempre. Chega, Alice. Você está me dando nos nervos. Estou ótimo.

Ela piscou uma vez enquanto Jasper a ajudava a sentar, e seus olhos se focaram em meu rosto.

– Hmmm – ela disse, parecendo surpresa. – Acho que você está certo.

É claro que estou – eu murmurei.

Eu odiava ser o centro de preocupação deles. Eu sentia pena de Jasper, lembrei-me de todos os tempos que nós nos curvávamos o protegendo. Ele encontrou meu olhar brevemente, e sorriu.

“Irritante, não é?”

Eu sorri para ele.

Foi só semana passada que esse grande lugar parecia tão entediante para mim? Que parecia até dormir, como num coma, estar aqui?

Hoje meus nervos estavam esticados e duros – fios de piano, pressionados a cantar à menor pressão. Meus sentidos estão hiperalertas, eu percebia todo som, todo olhar, todo movimento do ar que tocava minha pele, todo pensamento. Especialmente os pensamentos. Havia um único sentido que eu me recusava a usar. Cheiro, é claro. Eu não respirei.

Eu esperei ouvir mais dos Cullen nos pensamentos que eu segui em frente. O dia todo eu esperei, qualquer novo pensamento que Bella Swan tenha participado, tentando ver qual direção a fofoca ia tomar. Mas não havia nada. Ninguém tinha percebido os cinco vampiros no refeitório, do mesmo jeito que antes, quando a garota nova chegou. Muitos dos humanos ainda estavam pensando naquela garota, ainda com os mesmos pensamentos da semana passada. Ao invés de pensar nisso como entediante, eu estava fascinado.

Ela não disse nada pra ninguém sobre mim?

Não tinha jeito dela não ter percebido meu escuro, assassino olhar. Eu a vi reagir a isso. Com certeza eu a assustei. Eu estava convencido de que ela falaria disso para alguém, talvez até exagerar um pouco na história para ficar melhor. Dando-me algumas falas ameaçadoras.

E então, ela também me ouviu tentar sair de nossa aula de biologia. Ela deve ter imaginado, depois de ver minha expressão, que ela era a causa. Uma garota normal teria perguntado por aí, comparando sua experiência com a de outros, procurando por coisas em comum para que ela pudesse explicar meu comportamento, para que ela não se sentisse sozinha nisso. Humanos eram tão constantemente desesperados para se sentirem normais, para se encaixarem. Para se misturarem com todo mundo à sua volta, como um rebanho de ovelhas. Essa necessidade era mais forte na época da adolescência. Aquela garota não deveria ser uma exceção para essa regra.

Mas ninguém pareceu nos notar sentados na nossa mesa de sempre. Bella devia ser excepcionalmente tímida, se ela não confiava em ninguém. Talvez ela tenha falado com seu pai, talvez aquela fosse a mais forte relação... embora isso parecesse não muito provável, pelo fato dela não ter passado tanto tempo com ele durante sua vida. Ela devia ser mais próxima à sua mãe. Ainda assim, eu teria que passar pelo Chefe Swan alguma hora e ouvir o que ele estava pensando.

– Alguma coisa nova? – Jasper perguntou.

– Nada. Ela... não deve ter dito nada.

Todos eles levantaram uma sobrancelha pela novidade.

– Talvez você não seja tão assustador quanto você pensa que é – Emmett disse, rindo. – Eu aposto que eu a teria assustado mais do que isso.

Eu virei meus olhos pra ele.

– Imagino por quê...? – Ele se questionou de novo sobre minha revelação pelo silencio único da garota.

– Nós já falamos nisso. Eu não sei.

– Ela está entrando – Alice murmurou então. Eu senti meu corpo ficar rígido. – Tente parecer humano.

– Humano, você diz? – Emmett perguntou.

Ele levantou seu punho direito, movendo seus dedos e revelando uma bola de neve que ele guardou em sua palma. É claro que ela não derreteu. Ele apertou até virar um bloco de gelo. Ele tinha seus olhos nos de Jasper, mas eu vi a direção de seus pensamentos. E Alice também, é claro. Quando ele jogou o pedaço de gelo na direção dela, ela o desviou com um casual movimento dos dedos. O gelo ricocheteou por entre o refeitório; rápido demais para ser visto pelos olhos humanos, e bateu em um afiado crack na parede de tijolos. O tijolo quebrou, também.

As cabeças naquele canto viraram para olhar a pilha de gelo quebrado no chão, e então viraram pra procurar o culpado. Eles não olharam além de algumas mesas longe deles. Ninguém olhou para nós.

– Muito humano, Emmett – Rosalie disse. – Por que você não soca a parede?

– Iria parecer mais impressionante se você fizesse, baby.

Eu tentei prestar atenção neles, mantendo um sorriso no meu rosto como se eu fizesse parte da conversa. Eu não me permiti olhar para a fila em que ela estava parada. Mas isso era tudo o que eu estava ouvindo.

Eu podia ouvir a impaciência de Jéssica com a garota nova, que parecia estar distraída também, parada sem emoção na linha que se movia. Eu vi, nos pensamentos de Jéssica, que as bochechas de Bella Swan estavam de novo rosadas com um rosa claro por causa do sangue.

Eu respirava pouco, preparado para parar de respirar se alguma insinuação de seu cheiro pairasse no ar perto de mim.

Mike Newton estava com as duas garotas. Eu ouvia as suas duas vozes, mental e verbal, quando ele perguntou o que tinha de errado com a garota Swan. Eu não gostava do jeito que seus pensamentos se envolviam com ela, as fantasias que já se estabeleciam em sua mente a fazendo ficar nebulosa enquanto ele a olhava parecendo que ela tinha esquecido que ele estava lá.

– Nada – ouvi Bella dizer silenciosamente, com a voz clara. Parecia tocar feito um sino por cima da tagarelice do refeitório, mas eu sabia que era só porque eu estava prestando atenção muito intensamente a ela.

– Só vou querer refrigerante hoje – ela continuou para seguir a fila.

Eu não pude deixar de olhar para a direção dela. Ela estava olhando para o chão, o sangue saindo de seu rosto. Olhei rapidamente para Emmett, que riu do meu sorriso no rosto.

Você parece doente, mano”.

Eu arrumei minha expressão para fazê-la parecer normal.

Jéssica estava pensando alto sobre a falta de apetite da garota. – Não está com fome?

– Na verdade, estou meio enjoada. – Sua voz estava mais baixa, mas ainda bem clara.

Por que me incomodava a preocupação toda protetora que invadiu os pensamentos de Mike Newton? O que importava o modo possessivo em que ele pensava nela? Não era da minha conta se Mike Newton se sentia ansioso perto dela. Talvez essa fosse a maneira que todo mundo respondia a ela. Eu não queria a proteger também? Antes de querer matá-la, isso é...

Mas ela estava doente?

Era difícil de julgar – ela parecia tão delicada com sua pele translúcida... E então eu percebi que estava me preocupando também, assim como aquele maldito garoto, e eu me forcei a não pensar na saúde dela.

Independentemente, eu não gostava de monitorá-la pelos pensamentos de Mike. Eu troquei para os pensamentos de Jéssica, assistindo cuidadosamente enquanto os três decidiam em que mesa sentariam. Felizmente, eles se sentaram com as companhias usuais de Jéssica, em uma das primeiras mesas no refeitório. Sem vento a favor, como Alice disse.

Alice me deu uma cotovelada.  “Ela irá olhar em breve, aja como humano”.

Eu apertei meus dentes atrás do meu sorriso.

– Calma, Edward – Emmett disse. – Honestamente. Se você matar um humano. Não vai ser o fim do mundo.

– Você saberia. – Eu murmurei.

Emmett riu.

– Você precisa aprender a superar as coisas. Assim como eu. Eternidade é um tempo muito grande pra se sentir culpado.

E então, Alice lançou uma mão cheia de gelo que ela estava guardando, no rosto de Emmett. Ele piscou, surpreso, e então sorriu em antecipação.

– Foi você quem pediu – ele disse, enquanto se inclinava na mesa e balançava seu cabelo cheio de gelo em direção à Alice. A neve, derretendo no lugar quente, voou de seu cabelo em um chuveiro meio líquido e meio gelo.

– Eca! – Rose reclamou, enquanto ela e Alice se encolhiam.

Alice riu, e então todos nós nos juntamos. Eu pude ver no rosto de Alice como ela orquestrou esse momento perfeito, e eu soube que a garota – eu tinha que parar de pensar nela desse jeito, como se ela fosse a única garota do mundo – que Bella estaria nos vendo rir e brincar, parecendo felizes e humanos e tão irrealmente ideais quanto uma pintura de Norman Rockwell.
Alice continuou a rir, e ergueu sua bandeja como um escudo. A garota – Bella – ainda deveria estar olhando para nós.

“...olhando para os Cullen de novo”, alguém pensou, segurando minha atenção.

Eu olhei automaticamente em direção à chamada não intencional, reconhecendo a voz – eu estive ouvindo muito ela hoje.

Mas meus olhos passaram reto de Jéssica, e me foquei no olhar penetrante da garota.

Ela olhou pra baixo rapidamente, se escondendo por entre seus cabelos de novo.

O que ela estava pensando? A frustração parecia ficar mais aguda enquanto o tempo passava, diferente de entediante. Eu tentei – incerto do que eu estava fazendo, porque nunca tinha tentado isso antes – investigar com minha mente o silêncio em volta dela. Minha audição extra sempre veio a mim naturalmente, sem pedir; eu nunca tive que trabalhar. Mas eu me concentrei agora, tentando quebrar qualquer escudo que tivesse em volta dela.

Nada mais que silêncio.

“O que há com ela?” Jéssica pensou, ecoando minha frustração.

– Edward Cullen está olhando para você. – Ela sussurrou na orelha da garota Swan, adicionando uma risadinha. Não havia pistas da irritação ciumenta em seu tom. Jéssica parecia acostumada.

Eu ouvi, com atenção, a resposta da garota.

– Ele não parece estar com raiva, parece? – ela sussurrou de volta.

Então ela tinha notado minha reação semana passada. É claro que ela notou.

A pergunta deixou Jéssica confusa. Eu vi meu próprio rosto em seus pensamentos enquanto ela checava minha expressão, mas eu não encontrei seu olhar, eu ainda estava concentrado na garota, tentando ouvir algo. Minha concentração não parecia estar ajudando.

– Não. – Jess disse a ela, e eu sabia que ela desejava dizer sim – como meu olhar a inflamava por dentro – embora não tinha nada disso em sua voz. – Deveria estar?

– Acho que ele não gosta de mim – a garota sussurrou, deitando sua cabeça em seu braço parecendo cansada imediatamente. Eu tentei entender o movimento, mas eu só pude tentar adivinhar. Talvez ela estivesse cansada.

– Os Cullen não gostam de ninguém. – Jess assegurou. – Bom, eles não percebem a presença de ninguém para gostar. “Eles nunca fizeram isso”. – Seu pensamento era uma reclamação. – Mas ele ainda está olhando pra você.

– Pare de olhar para ele – a garota disse ansiosamente, levantando sua cabeça de seu braço para ver se Jéssica tinha obedecido a sua ordem.

Jéssica riu, mas fez o que ela pediu.

A garota não olhou pra fora da mesa pelo resto da hora. Eu pensei – embora, é claro, eu não podia ter certeza – que isso era deliberar. Parecia que ela queria olhar para mim. Seu corpo se virava suavemente em minha direção, seu queixo começava a virar, e então ela se pegava fazendo isso, respirava, e olhava para qualquer um que tivesse falando.

Eu ignorei os outros pensamentos em volta da garota pelo maior tempo, enquanto eles não eram, momentaneamente, sobre ela. Mike Newton agora estava planejando uma guerra de neve no estacionamento depois da escola, não parecendo perceber que a neve tinha se tornada chuva. A neve tinha derretido contra o telhado e virara gotas d’água. Ele realmente não conseguia ouvir a mudança? Parecia bem alto para mim.

Quando o período de lanche terminou, eu fiquei no meu assento. Os humanos saíram, e eu me peguei tentando diferenciar os passos dela com o das outras pessoas, como se tivesse algo diferente sobre eles. Que estupidez.

Minha família também não se mexeu. Esperei para ver o que eu iria fazer.

Eu iria para a classe, sentar do lado da garota onde poderia sentir o cheiro absolutamente potente de seu sangue e sentir o calor dela que pulsava o ar em minha pele? Eu era forte o suficiente para isso? Ou eu tive o suficiente por um dia?

– Eu... acho que está tudo bem – Alice disse, hesitante. – Sua mente está fixa. Eu acho que você vai conseguir passar a hora.

Mas Alice sabia o quão rápido uma mente podia mudar.

– Por que pressionar, Edward? – Jasper perguntou. Embora ele não quisesse se sentir feliz por eu ser o fraco agora, pude ouvir que ele estava, só um pouquinho. – Vá pra casa. Pega leve.

– O que importa? – Emmett discordou. – Ele vai matá-la ou não. É bom terminar com isso, de qualquer jeito.

– Eu não quero me mudar ainda. – Rosalie reclamou. – Eu não quero começar tudo de novo. Nós estamos quase saindo da escola, Emmett. Finalmente.

Eu estava dividido pela decisão. Eu queria, queria mesmo, enfrentar isso de frente ao invés de fugir de novo. Mas eu também não queria me forçar tanto. Foi um erro semana passada para Jasper ficar tanto tempo sem caçar; será que isso era só um erro sem objetivo?

Eu não queria magoar minha família. Ninguém ia me agradecer por isso.

Mas eu queria ir para a minha aula de biologia. Eu percebi que queria ver o rosto dela de novo.

Foi isso que me fez decidir. Essa curiosidade. Eu fiquei bravo comigo mesmo por sentir isso. Eu não tinha me prometido que o silêncio da mente dessa garota não ia me deixar interessado por ela? E aqui estava eu, bastante interessado.

Eu queria saber o que ela estava pensando. A mente dela era fechada, mas seus olhos eram bem abertos. Talvez eu os devesse ler.

– Não, Rose, eu acho que realmente vai ficar tudo bem – Alice disse. – Está se firmando. Tenho 93% de certeza que nada de ruim vai acontecer se ele for pra aula. – Ela me olhou com dúvida, imaginando o que tinha mudado em minha mente que fez a visão do futuro mais segura.

Seria a curiosidade o bastante para manter Bella Swan viva?

Emmett estava certo – por que não acabar com isso logo, de qualquer jeito? Eu iria confrontar a tentação de cabeça erguida.

– Vão para aula – eu ordenei, empurrando a mesa. Saí do lugar sem olhar pra trás. Eu podia ouvir a preocupação de Alice, a censura de Jasper, a aprovação de Emmett e a irritação de Rosalie logo atrás de mim.

Respirei uma última vez na porta da classe, então a segurei nos meus pulmões e entrei no pequeno e quente espaço.

Eu não estava atrasado, o Sr. Banner ainda estava arrumando o laboratório de hoje. A garota estava sentada na minha – na nossa mesa, seu rosto estava baixo de novo, olhando para a pasta que ela estava desenhando. Examinei os rascunhos enquanto me aproximava, interessado até nessa criação da mente dela, mas era sem significados. Só um desenho aleatório de curvas e mais curvas. Talvez ela não estivesse prestando atenção no desenho, mas pensando em algo diferente?

Puxei minha cadeira com uma aspereza desnecessária, deixando-a fazer barulho contra o linóleo, humanos sempre se sentiam mais conformados com o barulho anunciando a aproximação de alguém.

Eu sabia que ela tinha ouvido o som; ela não olhou para cima, mas sua mão perdeu uma curva no design que ela estava desenhando, fazendo-o ficar fora de esquadro.

Por que ela não olhou para cima? Ela provavelmente estava com medo. Eu tinha que ter certeza de deixar uma impressão diferente com ela dessa vez. Fazer com que ela pensasse que estava imaginando coisas antes.

– Oi – eu disse numa voz silenciosa que sempre usava quando queria que os humanos se sentissem mais confortáveis, formando um sorriso educado nos meus lábios que não mostrava nenhum dos meus dentes.

Ela olhou para cima então, seus grandes olhos marrons brilharam – quase confusos – e cheios de perguntas silenciosas. Era a mesma expressão que estava obstruindo minha visão na semana passada.

Enquanto eu olhava para aqueles olhos marrons estranhamente profundos, eu percebi que o ódio – o ódio que eu imaginei que essa garota merecia por simplesmente existir – tinha evaporado. Ainda sem respirar, sem sentir seu cheiro, era difícil acreditar que alguém tão vulnerável podia merecer ódio.

Suas bochechas começaram a rosar, e ela não disse nada.

Mantive meus olhos nos dela, focando apenas em sua profundidade questionadora, tentando ignorar a cor apetitosa de sua pele. Eu tinha respiração o suficiente para falar um pouquinho mais sem precisar inalar.

– Meu nome é Edward Cullen – eu disse, mesmo sabendo que ela sabia disso. Era a maneira mais educada para começar. – Não tive a oportunidade de me apresentar na semana passada. Você deve ser Bella Swan.

Ela parecia confusa – e um pequeno franzido surgiu no meio de seus olhos de novo. Demorou meio segundo a mais do que deveria para ela responder.

– Co-como você sabe o meu nome? – ela perguntou, e sua voz balançou um pouco.

Eu devo tê-la assustado realmente. Isso me fez sentir culpado; ela era tão inofensiva. Eu ri gentilmente – era um som que fazia os humanos relaxarem um pouco. De novo, tomei cuidado com meus dentes.

– Ah, acho que todo mundo sabe seu nome. – Claramente ela percebeu que ela virou o centro das atenções nesse lugar monótono. – A cidade toda estava esperando você chegar.

Ela franziu as sobrancelhas como se essa informação fosse desagradável. Eu imaginei, sendo tímida como ela era, que chamar atenção seria uma coisa ruim para ela. A maioria dos humanos sentia o oposto. Eles não queriam ficar fora do rebanho, mas ao mesmo tempo eles cravavam um holofote para sua uniformidade individual.

– Não – ela disse. – Quer dizer, por que me chamou de Bella?

– Prefere Isabella? – eu perguntei, perplexo pelo fato de não saber para onde essa pergunta estava me levando. Eu não entendia. Claro, ela fez sua preferência clara muitas vezes naquele primeiro dia. Todos os humanos eram incompreensíveis desse jeito sem um manual mental?

– Não, gosto de Bella – ela respondeu, sua cabeça se virando para um lado. Sua expressão – se eu estivesse lendo certo – estava dividida entre vergonha e confusão. – Mas acho que Charlie... quer dizer, meu pai... deve me chamar de Isabella nas minhas costas... é como todo mundo aqui parece me conhecer. – Sua pele se tornou rosa.

– Ah – eu disse, e rapidamente olhei pra longe de seu rosto.

Percebi o que as perguntas dela significavam: eu escorreguei – cometi um erro. Se não tivesse ouvido as pessoas naquele primeiro dia, então teria falado seu nome inteiro, assim como os outros. Ela notou a diferença.

Eu me senti um pouco desconfortável. Foi bem rápido da parte dela perceber meu escorregão. Bem astuto, especialmente para alguém que deveria estar assustada por causa da minha proximidade.

Mas eu tinha problemas maiores do que qualquer coisa suspeita sobre mim que ela tinha na cabeça dela.

Estava sem ar. Se fosse falar de novo, teria que inalar.

Seria difícil não falar. Infelizmente para ela, dividir essa mesa comigo a faria ser minha parceira de laboratório, e teríamos que trabalhar juntos hoje. Iria parecer estranho – e incompreensivelmente rude – ignorá-la enquanto fazíamos o laboratório. Ela ficaria mais suspeita, com mais medo...

Eu me inclinei o mais longe possível dela sem me mover do meu banco, colocando minha cabeça no corredor. Eu me abracei, colocando meus músculos no lugar, e então puxei o ar em um movimento rápido, respirando só pela minha boca.

Ahh!

Era muito doloroso. Mesmo não sentindo seu cheiro, eu podia senti-la em minha língua. Minha garganta entrou em chamas de novo, ficando mais forte do que o momento que eu peguei o cheiro dela semana passada.

Juntei meus dentes e tentei me recompor.

– Podem começar. – Sr. Banner comandou.

Pareceu que levou cada pequeno pedaço de autocontrole que eu conquistei em 70 anos de trabalho duro para virar para a garota de novo, que estava olhando para a mesa, e sorri.

– Primeiro as damas, parceira? – eu ofereci.

Ela olhou para minha expressão e sua face ficou branca, seus olhos enormes. Havia algo em minha expressão? Ela estava com medo de novo? Ela não falou nada.

– Ou, eu posso começar, se preferir. – Eu disse baixinho.

– Não. – Ela disse, e sua face foi de branco para vermelho de novo. – Eu começo.

Olhei para o equipamento na mesa, o microscópio, a caixa de slides, ao invés de olhar para o sangue se mexer embaixo da pele dela. Respirei rápido de novo, pelos meus dentes, e estremeci por causa do gosto e a dor em minha garganta.

– Prófase – ela disse depois de um rápido exame. Ela começou a remover o slide, mesmo sem nem examinar direito.

– Importa-se se eu olhar? – Instintivamente – estúpido, como se eu fosse alguém de sua espécie – eu alcancei sua mão pra que parasse de remover o slide. Por um segundo, o calor de sua pele queimou a minha. Foi como um pulso elétrico – bem mais quente que meros 37 graus. O calor passou pela minha mão e depois subiu para meu braço. Ela puxou sua mão debaixo da minha.

– Desculpe – eu murmurei por entre meus dentes.

Precisando de algum lugar pra olhar, eu agarrei o microscópio e olhei brevemente pelo visor. Ela estava certa.

– Prófase – concordei.

Eu ainda estava muito incerto para olhar pra ela. Respirando silenciosamente pelos meus dentes e tentando ignorar a sede, concentrei-me na simples tarefa de escrever a resposta na linha certa da ficha do laboratório e então mudei o primeiro slide para o próximo.

O que ela estava pensando agora? Como foi que ela se sentiu, quando eu toquei sua mão? Minha pele devia ser fria como gelo – repulsiva. Não é à toa que ela estivesse tão quieta.

Eu olhei para o slide.

– Anáfase – eu disse para mim mesmo enquanto escrevia na segunda linha.

– Posso? – ela perguntou.

Eu a olhei, surpreso por ela estar esperando ansiosamente, uma mão meio esticada para o microscópio. Ela não parecia estar com medo. Ela realmente achava que eu estava errado?

Eu não pude deixar de sorrir para seu olhar esperançoso enquanto empurrava o microscópio em sua direção.

Ela olhou no visor com um entusiasmo que rapidamente se foi. Os cantos de seus lábios se viraram pra baixo.

– Lâmina três? – ela perguntou, sem olhar pra cima do microscópio, mas levantando a mão. Eu deixei cair o próximo slide em sua mão, sem deixar minha pele chegar próxima da dela dessa vez. Sentar ao lado dela era como se sentar ao lado de uma lâmpada quente. Eu podia me sentir um pouquinho quente pela alta temperatura.

Ela não olhou para o slide por muito tempo. – Interfase. – Ela disse indiferente – talvez tentando um pouquinho demais para parecer assim – e empurrou o microscópio para mim. Ela não tocou no papel, mas esperou eu escrever a resposta. Eu chequei – ela estava correta de novo.

Nós terminamos desse jeito, falando uma palavra por vez e nunca encontrando os olhos um do outro. Éramos os únicos que tinham terminado – os outros na classe estavam tendo dificuldades com a atividade. Mike Newton parecia ter problemas para se concentrar – ele estava tentando vigiar Bella e eu.

“Queria que ele tivesse ficado aonde ele foi” Mike pensou, me olhando furioso. Hmmm, interessante. Eu não tinha me dado conta que o garoto nutria qualquer má vontade em relação à mim. Esse era um novo desenvolvimento, tão recente quanto a chegada da garota parecia. Mais interessante ainda, eu descobri – para minha surpresa – que o sentimento era recíproco.

Olhei para a garota de novo, admirado pela alta taxa de dano e turbulência que, embora sua comum, e não ameaçadora aparência, ela estava causando em minha vida.

Não era que eu não pudesse ver o que Mike estava querendo. Ela é realmente bonita... de um jeito diferente. Melhor do que ser linda, seu rosto era interessante. Não muito simétrico – seu queixo estreito era fora de balanço com suas bochechas grandes; extremamente coloridas – o contraste claro e escuro de sua pele com seu cabelo; e então, tinham os olhos, com seus segredos silenciosos...

Olhos que ficaram subitamente entediantes nos meus.

Eu a encarei de novo, tentando adivinhar pelo menos um de seus segredos.

– Você usa lentes de contato? – Ela perguntou abruptamente.

Que pergunta estranha. – Não. – Eu quase sorri pela ideia de melhorar minha visão.

– Ah – ela murmurou. – Pensei ver alguma coisa diferente nos seus olhos.

Eu congelei de novo enquanto percebia que aparentemente eu não era o único a tentar desvendar segredos hoje.

Eu dei de ombros, meus ombros rígidos, e olhei para frente onde o professor estava fazendo rondas.

É claro que tinha algo diferente com meus olhos desde a última vez que ela os olhou. Para me preparar para a difícil prova de hoje, a tentação de hoje, eu passei o fim-de-semana inteiro caçando, satisfazendo minha sede tanto quanto possível, demais até. Eu me enchi do sangue de animais, não que fizesse muita diferença perante o sabor que pairava no ar em volta dela. Quando olhei para ela semana passada, meus olhos estavam pretos de sede. Agora, meu corpo estava nadando em sangue, meus olhos eram cor-de-ouro. Um âmbar claro pela excessiva matança da sede.

Outro escorregão. Se eu soubesse o que ela queria dizer com essa pergunta, eu poderia apenas ter dito que sim.

Eu sentei do lado de humanos por dois anos nessa escola, e ela foi a primeira a me examinar tão de perto para notar a mudança da cor dos meus olhos. Os outros, enquanto admiravam a beleza da minha família, tinham a mania de olhar pra baixo quando retornávamos o olhar. Eles se esquivavam, bloqueando os detalhes da nossa aparência como um esforço instintivo para mantê-los longe de entender. Ignorância era a felicidade da mente humana.

Por que tinha que ser essa garota a ver tanta coisa?

O Sr. Banner se aproximou da nossa mesa. Eu muito grato inalei o ar que ele trouxe consigo antes que ele pudesse se misturar com o cheiro dela.

– Então, Edward, – ele disse, olhando para as nossas respostas. – não acha que Isabella deveria ter a chance de usar o microscópio?

– Bella – eu o corrigi automaticamente. – Na verdade, ela identificou três das cinco lâminas.

Os pensamentos do Sr. Banner eram bem céticos enquanto ele olhava para a garota. – Já fez essa experiência de laboratório antes?

Eu olhei, absorto, enquanto ela sorria, parecendo um pouco envergonhada.

– Não com raiz de cebola.

– Blástula de linguado? – Sr. Banner perguntou.

– Foi.

Isso o surpreendeu. O laboratório de hoje era algo que ele tinha retirado de um curso mais avançado. Ele assentiu para a garota. – Você estava em algum curso avançado em Phoenix?

– Estava.

Ela era avançada então, inteligente para uma humana. Isso não me surpreendeu.

– Bem – Sr. Banner disse apertando os lábios. – Acho que é bom que os dois sejam parceiros de laboratório. – Ele virou e foi para o outro lado, murmurando, – Assim as outras crianças podem ter uma chance de aprender algo. – embaixo de sua respiração. Duvido que a garota possa ter ouvir isso. Ela começou a desenhar curvas em sua pasta de novo.

Dois escorregões até agora em meia hora. Uma pobre exibição de minha parte. Embora eu não tivesse ideia do que a garota pensava de mim – o quanto ela tinha medo, o quanto ela suspeitava? – eu sabia que eu precisava me esforçar mais para deixar com ela uma nova impressão minha. Algo melhor para fazê-la esquecer de nosso último encontro furioso.

– Que chato aquela neve, não é? – repetindo a pequena conversa que eu ouvi uma dúzia de alunos discutir. Um chato padrão de conversa. O tempo – sempre seguro.

Ela olhou para mim com dúvidas óbvias nos olhos – uma reação anormal para minhas simples palavras. – Na verdade não. – Ela disse, me surpreendendo de novo.

Tentei manter a conversa em níveis seguros. Ela era de um lugar muito mais claro, quente – sua pele parecia refletir isso um pouco – e o frio deveria ser desconfortável. Meu toque gelado certamente foi...

– Você não gosta do frio – eu adivinhei.

– Nem da umidade – ela concordou.

– Forks deve ser um lugar difícil para você morar. – Talvez você não devesse ter vindo pra cá, eu queria adicionar. Talvez devesse voltar pra onde você pertence.

Eu não tinha certeza que eu queria isso. Eu sempre ia me lembrar do cheiro de seu sangue – havia alguma garantia que eu não a seguiria? E ainda, se ela fosse embora, sua mente ia pra sempre permanecer um mistério. Um constante quebra cabeças.

– Nem faz ideia – ela disse em uma voz baixa, olhando para mim por um momento.

As respostas dela nunca eram as que eu esperava. Elas me faziam querer perguntar mais.

– Então por que veio pra cá? – eu ordenei, percebendo que meu tom era muito acusador, não casual o suficiente para essa conversa. A pergunta soou rude, curiosa.

– É... complicado.

Ela piscou seus olhos, deixando a minha pergunta sem resposta, e eu quase implodi de curiosidade – a curiosidade queimava tanto quanto a sede em minha garganta. Na verdade, eu descobri que estava ficando mais fácil respirar; a agonia estava se tornando mais fácil de aguentar depois da familiaridade.

– Acho que posso aguentar – eu insisti. Talvez a cortesia comum a faria continuar respondendo minhas perguntas enquanto eu fosse rude o suficiente para perguntá-las.

Ela olhou para suas mãos silenciosamente. Isso me deixou impaciente; eu queria colocar minha mão embaixo de seu queixo e levantar sua cabeça para eu conseguir ler seus olhos. Mas seria insensato de minha parte – perigoso – tocar a pele dela de novo.

Ela olhou para cima subitamente. Era um alívio conseguir ver as emoções dela em seus olhos de novo. Ela falou com pressa, atropelando as palavras.

– Minha mãe se casou de novo.

Ah, isso era humano demais, fácil de entender. A tristeza passou por seus olhos e trouxe de volta o franzido entre eles.

– Isso não parece tão complexo – eu disse. Minha voz estava gentil sem mesmo eu trabalhar para parecer desse jeito. Sua tristeza me fez sentir estranhamente impotente, desejando que eu pudesse fazer alguma coisa para ela se sentir melhor. Um impulso estranho. – Quando foi que aconteceu?

– Em setembro. – Ela exalou pesadamente – não exatamente um suspiro. Eu segurei minha respiração enquanto a sua respiração quente vinha até meu rosto.

– E você não gosta dele – eu supus, pescando por mais informações.

– Não, o Phil é legal. – Ela disse, corrigindo minha especulação. Havia uma pequena pista de sorriso no canto de seus lábios agora. – Novo demais, talvez, mas é bem legal.

Isso não se encaixava no cenário que eu construí em minha mente.

– Por que não ficou com eles? – eu perguntei, minha voz um pouco, até demais, curiosa. Pareceu que eu estava me intrometendo. O que eu estava, admito.

– Phil viaja muito. Ganha a vida jogando bola. – O pequeno sorriso cresceu um pouco; essa escolha de carreira a divertia.

Eu sorri também, sem nem escolher isso. Eu não estava tentando fazê-la se sentir à vontade. Seu sorriso só me fez querer sorrir também – fazer parte do segredo.

– Eu conheço? – Eu corri pelos nomes de jogadores profissionais em minha cabeça, imaginando qual Phil era o dela...

– Provavelmente não. Ele não joga bem. – Outro sorriso. – É da segunda divisão. Ele se muda muito.

Os nomes mudaram na minha cabeça, e eu tabulei uma lista de possibilidades em menos de um segundo. Ao mesmo tempo, eu estava imaginando um cenário novo.

– E sua mãe mandou você para cá para poder viajar com ele. – Eu disse. Parecia mais fácil obter respostas fazendo especulações do que com perguntas. Funcionou de novo. Seu queixo se elevou um pouco, parecendo teimosa.

– Não, ela não me mandou pra cá – ela disse, e sua voz tinha um tom, pesado. Minha hipótese a deixou chateada, embora eu não pudesse ver como. – Eu quis vir.

Eu não pude entender o significado, ou a fonte de sua irritação. Estava perdido.

Então eu desisti. Ela não fazia nenhum sentido. Ela não era como os outros humanos. Talvez o silêncio em seus pensamentos e o perfume de seu cheiro não eram as únicas coisas fora do normal nela.

– Não entendo. – Eu admiti, odiando ceder.

Ela suspirou, e olhou nos meus olhos por mais tempo que os humanos normais conseguiam suportar.

– Ela ficou comigo no começo, mas sentia falta dele – ela explicou devagar, seu tom de voz cada vez mais desamparado em cada palavra. – Isso a deixava infeliz... Então cheguei à conclusão de que estava na hora de passar algum tempo de verdade com Charlie.

O franzido no meio de seus olhos aumentou.

– Mas agora é você que está infeliz – eu murmurei. Eu não conseguia parar de dizer minhas hipóteses em voz alta, esperando aprender com suas reações. Essa não parecia tão fora de marca.

– E? – ela disse, como se não fosse nem um aspecto a ser considerado.

Eu continuei a olhá-la nos olhos, sentindo que eu finalmente consegui o primeiro vislumbre de sua alma. Eu vi naquela única palavra que ela se colocava embaixo no ranking de suas prioridades. Diferente de muitos humanos, as suas necessidades estavam bem abaixo na lista.

Ela era altruísta.

Enquanto eu via isso, o mistério da pessoa que se escondia dentro dessa mente quieta começou a diminuir um pouco.

– Isso não parece justo – eu disse. Dei de os ombros, tentando parecer casual, tentando conciliar com a intensidade da minha curiosidade.

Ela riu, mas não havia humor em sua risada. – Ninguém te contou ainda? A vida não é justa.

Eu queria rir com suas palavras, embora eu, também, não me divertisse. Eu sabia alguma coisa sobre a injustiça da vida. – Acho que eu já ouvi isso em algum lugar.

Ela olhou para mim, parecendo confusa de novo. Seus olhos foram para longe e então voltaram para os meus.

– E então é isso – ela me disse.

Mas eu não estava pronto pra essa conversa acabar. O pequeno V no meio de seus olhos, o remanescente sentimento de arrependimento, me incomodava. Eu queria levá-lo embora com meu dedo. Mas, é claro, eu não podia tocá-la. Não era seguro de diversas maneiras.

– Está fazendo um belo papel. – Falei devagar, ainda considerando a próxima hipótese. – Mas aposto que está sofrendo mais do que deixa transparecer.

Ela fez uma careta, seus olhos se estreitando e sua boca se virando em um beiço de lado, e ela olhou para frente da classe. Ela na gostava quando eu acertava. Ela não era o mártir habitual – ela não queria uma audiência para a sua dor.

– Estou errado?

Ela se encolheu um pouquinho, mas fingiu não me ouvir.

Isso me fez sorrir. – Acho que não.

– Por que isso interessa a você? – ela ordenou, ainda olhando pra frente.

– Boa pergunta. – Admiti, mais para mim mesmo do que uma resposta para ela.

Seu discernimento era melhor que o meu – ela via o centro das coisas enquanto eu tentava ver os cantos, procurando por pistas. Os detalhes de sua vida humana não deveriam importar a mim. Era errado eu me importar com o que ela pensava. Além de proteger minha família de suspeitas, os pensamentos humanos não eram significantes.

Eu não estava acostumado a ser o menos intuitivo de qualquer comparação. Eu dependia muito da minha audição extra – eu com certeza não era tão perceptivo quanto eu achava.

A garota suspirou e olhou para frente da classe. Algo sobre sua expressão frustrada era engraçado. A situação toda, toda conversa era engraçada. Nunca ninguém esteve em tanto perigo por minha causa quanto essa garotinha – a qualquer momento eu poderia, distraído pela ridícula absorção à conversa, inalar pelo nariz e ataca-la antes de poder parar – e ela estava irritada porque não respondi sua pergunta.

– Estou irritando você? – eu perguntei, sorrindo por ser tudo tão absurdo.

Ela olhou para mim rapidamente, e então seus olhos pareciam presos pelo meu olhar.

– Não exatamente – ela me disse. – Estou mais irritada é comigo mesma. É tão fácil ler minha expressão... Minha mãe sempre me chama de livro aberto.

Ela juntou as sobrancelhas, descontente.

Eu olhei para ela admirado. A razão pela qual ela estava chateada era porque ela pensava que eu conseguia a enxergar muito facilmente. Que bizarro. Eu nunca gastei tanto esforço para entender alguém em toda minha vida – ou melhor existência, porque vida não era a palavra certa. Eu não tinha uma vida realmente.

– Pelo contrário – discordei, me sentindo estranho... cuidadoso, como se tivesse algum perigo escondido aqui que eu não estava conseguindo ver. De repente eu estava no limite, a premonição me deixando ansioso. – Acho você muito difícil de ler.

– Então você deve ser um bom leitor – ela supôs, fazendo suas próprias especulações que eram, novamente, bem no alvo.

– Em geral sou. – Concordei.

Eu sorri bem abertamente, deixando meus lábios exporem meus brilhantes, afiados dentes por trás deles.

Era uma coisa idiota de se fazer, mas eu estava abruptamente, inesperadamente desesperado em dar algum aviso para a garota. Seu corpo estava mais perto de mim do que antes, tendo mudado inconscientemente durante a nossa conversa. Todas as pequenas marcas e sinais que eram suficientes para espantar o resto da humanidade não pareciam funcionar com ela. Por que ela não fugiu de mim com medo? Claro que ela tinha visto uma boa parte do meu lado negro para perceber o perigo, intuitiva como era.

Não pude ver se meu aviso teve o efeito que eu queria. O Sr. Banner chamou a atenção da classe, e ela se virou para frente para ver. Ela parecia um pouco aliviada pela interrupção, então talvez ela tenha entendido subconscientemente.

Eu espero que ela tenha.

Reconheci a fascinação crescendo dentro de mim, mesmo que eu tenha tentado erradicá-la. Eu não podia fazer nada para não achar Bella Swan interessante. Ou melhor, ela não podia fazer nada. Eu já estava ansioso para ter outra chance de conversar com ela. Eu queria saber mais sobre sua mãe, sua vida antes de vir para cá, sua relação com seu pai. Todos os detalhes insignificantes que completariam seu caráter. Mas cada segundo que eu passava com ela era um erro, um risco que ela não deveria tomar.

Distraidamente, ela ajeitou seu cabelo grosso bem na hora em que me permiti respirar de novo. Uma onda particularmente concentrada de seu cheiro bateu no fundo da minha garganta.
Era como no primeiro dia – como a bola de demolição. A dor seca queimante me deixou tonto. Eu teria que segurar a mesa pra me manter no lugar. Dessa vez eu tinha um pouco mais de controle. Eu não quebrei nada, pelo menos. O monstro grunhiu dentro de mim, mas não teve prazer com minha dor. Ele estava bem selado. Naquele momento.

Eu parei de respirar completamente, e me inclinei para tão longe da garota quanto pude.

Não, eu não podia a achar fascinante. Quanto mais interessante eu a achava, mais provável seria que eu a mataria. Eu já tinha cometido dois deslizes pequenos hoje. Será que cometeria o terceiro, um que não seria pequeno?

Quando o sinal tocou, eu fugi da classe – provavelmente destruindo toda impressão de educação que eu mais ou menos tinha construído naquela hora. De novo, eu arfei no ar limpo, molhado lá fora que era como uma essência aromática curativa. Eu corri para colocar a maior distância possível entre eu e a garota.

Emmett me esperava na porta de nossa aula de Espanhol. Ele leu minha louca expressão por um momento.

“Como foi?”, ele perguntou com cautela.

– Ninguém morreu – eu murmurei.

Acho que isso é algo. Quando eu vi Alice matando aula no final, eu pensei...

Enquanto entrávamos na sala de aula, eu vi sua memória de alguns momentos atrás, vista pela porta aberta de sua última aula: Alice estava andando rapidamente e com o rosto sem foco, cruzando o terreno da escola em direção ao prédio de ciências. Se Alice precisasse de sua ajuda, ela pediria...

Fechei meus olhos em horror e nojo enquanto sentava no meu lugar.

– Eu não percebi que estava tão perto. Eu não pensei que eu ia... eu não vi que estava tão ruim – eu sussurrei.

“Não foi”, ele me assegurou. “Ninguém morreu, certo?”

Certo – eu disse pelos meus dentes. – Não dessa vez.

“Talvez fique mais fácil.”

– Claro.

“Ou, talvez você a mate”. Ele deu de ombros. “Você não seria o primeiro a dar um bola fora. Ninguém ia te julgar tão severamente. Algumas vezes uma pessoa só cheira muito bem. Estou surpreso que você tenha aguentado tanto.”

Não está ajudando, Emmett.

Eu estava revoltado pela aceitação dele pela ideia que eu iria matar a garota, que isso era de algum jeito inevitável. Era culpa dela que ela cheirava tão bem?

Eu sei quando isso aconteceu comigo...” ele lembrou, me levando com ele meio século atrás, para uma estrada rural no crepúsculo, onde uma mulher de meia-idade estava tirando seus lençóis de um varal amarrado entre árvores de maçã. O cheiro das maçãs era forte no ar – a época de colheita tinha acabado e as frutas rejeitadas estavam no chão, os machucados em sua casca espalhavam a fragrância em nuvens pegajosas. Um campo de feno, recentemente cortado, era o fundo para o cheiro, uma harmonia. Ele caminhou pela estrada, alheio à mulher, numa missão para Rosalie. O céu estava roxo, laranja onde estavam as árvores ao oeste. Ele teria continuado o caminho e não deveria ter razão para se lembrar daquela noite, exceto que de repente uma brisa noturna soprou os lençóis como velas de navio e ventilou o cheiro da mulher através do rosto de Emmett.

– Ah – eu grunhi silenciosamente. Como se minha própria memória da sede não fosse o suficiente.

“Eu sei. Eu não durei nem meio segundo. Eu nem pensei em resistir”.

A memória dele ficou muito explícita para eu aguentar.

Eu fiquei em pé, meus dentes juntos o suficiente para que cortassem aço.

– Estas bien, Edward? – A Senhora Goff perguntou, assustada pelo meu movimento repentino.

Eu podia ver meu rosto em sua mente, e eu sabia que eu parecia longe de estar bem.

– Me perdona – eu murmurei, enquanto disparava para a porta.

– Emmett – por favor, puedes tu ayudar a tu hermano? – ela perguntou, gesticulando em minha direção enquanto eu saía da sala.

– Claro – ouvi-o dizer. E então estava bem do meu lado.

Ele me seguiu até o lado mais longe do prédio, onde me alcançou e colocou a mão no meu ombro.

Eu empurrei sua mão com uma força desnecessária. Teria quebrado os ossos em uma mão humana, e os ossos do braço que estavam junto.

– Desculpe, Edward.

– Eu sei. – Eu respirava fundo, tentando clarear minha cabeça e meus pulmões.

– É tão ruim quanto isso? – ele perguntou, tentando não pensar no cheiro e no sabor de sua memória, enquanto perguntava, e não tendo sucesso.

– Pior, Emmett, pior.

Ele ficou silencioso por um momento.

“Talvez...”

– Não, não seria melhor se eu acabasse com isso logo. Volte para a sala, Emmett. Eu quero ficar sozinho.

Ele se virou sem outra palavra ou pensamento e andou rapidamente para longe. Ele diria para a professora de espanhol que eu estava enjoado, ou matando aula, ou que era um vampiro que estava fora de controle. A desculpa realmente importava? Talvez eu não fosse voltar. Talvez eu tivesse que ir embora.

Fui para o meu carro de novo, para esperar a escola acabar. Me esconder. De novo.

Eu devia ter passado o tempo tomando decisões ou tentando reforçar minha decisão, mas, como um viciado, eu me vi pesquisando pelos murmúrios de pensamentos que emanavam do prédio da escola. As vozes familiares se destacavam, mas eu não estava interessado em escutar as visões de Alice ou as reclamações de Rosalie agora. Achei Jéssica facilmente, mas a garota não estava com ela, então continuei procurando. Os pensamentos de Mike Newton me chamaram a atenção, e eu a localizei afinal, no ginásio com ele. Ele estava infeliz, porque eu conversei com ela hoje na aula de biologia. Ele estava pensando na resposta dela quando ele trouxe o assunto de volta...

Eu nunca o vi conversando com alguém por mais que uma palavra aqui ou ali. É claro que ele iria achar Bella interessante. Eu não gosto da maneira que ele olha pra ela. Mas ela não parece tão animada com ele. O que ela disse? ‘Imagino o que havia com ele na última segunda’. Algo assim. Não parecia que ela ligava. Não deve ter sido muito uma conversa...”

Ele se tirava pra fora do pessimismo, animado pela ideia de que Bella não estivesse interessada em mim. Isso me incomodou um pouco mais do que era aceitável, então eu parei de escutá-lo.

Coloquei um CD de músicas violentas no meu rádio, e então aumentei o som até que afundasse na voz deles. Eu tinha que me concentrar na música para me manter longe de voltar a ouvir os pensamentos de Mike Newton sobre a garota inocente...

Trapaceei algumas vezes, enquanto a hora chegava ao fim. Não espionando, eu tentei me convencer. Só estava me preparando. Eu queria saber exatamente quando ela sairia do ginásio, quando ela viria para o estacionamento. Não queria ser pego de surpresa.

Enquanto os estudantes saíam do ginásio, eu saí do meu carro, não sabendo por que eu fiz isso. A chuva estava fraca – a ignorei enquanto caía no meu cabelo.

Eu queria que ela me visse aqui? Eu esperava que ela viesse conversar comigo? O que eu estava fazendo?

Não me mexi, embora tentasse me convencer a voltar ao carro, sabendo que meu comportamento era repreensivo. Mantive meus braços cruzados no peito e respirava bem superficialmente enquanto eu a via andar em minha direção, sua boca se virando pra baixo nos cantos. Ela não olhou pra mim. Algumas vezes ela olhou para as nuvens com uma careta, como se elas a ofendessem.

Eu fiquei desapontado quando ela chegou ao seu carro antes de passar por mim. Ela teria falado comigo? Eu teria falado com ela?

Ela entrou em seu Chevy vermelho desbotado, uma caminhonete enferrujada que era mais velha que o pai dela. Eu a olhei ligar a caminhonete – o motor velho fez um barulho mais alto que qualquer outro carro no estacionamento – e então colocou suas mãos em direção ao ar aquecido. O frio era desconfortável pra ela – ela não gostava. Ela passava seus dedos por seus cabelos grossos, colocando-os em direção do aquecedor como se quisesse secá-los. Imaginei como a caminhonete estaria cheirando, e rapidamente saí desse pensamento.

Ela olhou ao seu redor para sair, e finalmente olhou em minha direção. Ela me encarou de volta por apenas meio segundo, e tudo o que eu pude ler em seus olhos era surpresa antes que ela virasse seus olhos pra longe e movesse a caminhonete dando ré. E então, parou de novo, a traseira de sua caminhonete perdendo uma colisão com o carro de Erin Teague por alguns centímetros.

Ela olhou pelo espelho retrovisor, sua boca aberta em desapontamento. Quando o outro carro passou por ela, ela checou todos os pontos cegos duas vezes e então saiu do estacionamento tão cuidadosamente que me fez sorrir abertamente. Era como se ela pensasse que ela era perigosa em sua caminhonete.

O pensamento de Bella Swan sendo perigosa pra qualquer um, não importa o que ela estivesse dirigindo, fez-me rir enquanto ela dirigia por mim, olhando diretamente pra frente.

... Continua