5
– Você está
bem? – Eu não sabia por onde começar. Estava tremendo. Várias perguntas
passavam por meus pensamentos ao mesmo tempo. E se ela não quisesse falar comigo? O que ela
estava pensando de mim agora? Um garoto que de repente aparece do nada, sozinho,
do meio das sombras. Será que ela percebeu que eu testemunhei o que tinha
acontecido com ela?
Ela não me
olhou ao responder. Ficou olhando o lenço que eu tinha entregado para ela.
– Sim, estou
bem. De fato, estou ótima. – Sua voz falhou um pouco. Estava rouca por causa do
choro.
A pessoa mais
sem noção poderia notar que ela não estava bem, muito menos ótima. Mas ela
estava tentando encerrar a conversa. Isso queria dizer que ela não queria falar
comigo. Quase dei meia volta e fui embora. Meus nervos já estavam em
frangalhos, mas ao olhar para ela novamente alguma coisa me fez ficar. Eu
queria que ela pudesse confiar em mim, que ela me contasse todos os seus medos,
seus receios. Queria saber como ela estava se sentindo agora. Queria poder
confortá-la.
Resolvi que
não ia desistir assim tão fácil. Faria mais uma tentativa, se ela me rejeitasse
novamente, iria para o dormitório e chamaria Stevie Rae para vir encontra-la.
Não iria deixar que ela ficasse sozinha.
– Você não
parece ótima. Importa-se se eu me sentar? – Cruzei os dedos atrás das costas.
Estava esperançoso, afinal, ela não iria ser mal educada e dizer que não – pelo
menos era isso que eu achava – mas ela poderia dizer que já estava de saída e
se despedir. Esperei pela resposta, angustiado.
– Não, pode
ficar à vontade. – Ela disse com indiferença, mas não me dispensou, e eu disse
que não iria desistir. Então me sentei devagar ao seu lado, tomando o cuidado
para não ficar muito próximo dela para não assustá-la. Apesar de ser esse o meu
desejo.
Ela ficou em
silêncio por um momento e eu estava tentando pensar em alguma coisa para dizer,
sem ter que dizer logo de cara que eu a segui até aqui, mas não estava encontrando
nada para dizer. Ai, como era frustrante! Eu sempre fui tão confiante e agora
parecia um gatinho assustado, esperando para ser enxotado.
De repente
Zoey olhou para mim e falou. – Caso você não tenha percebido, fui eu quem
presenciou aquela ceninha entre você e Aphrodite ontem no corredor – Bem
direta. Não tinha como eu negar e eu sabia que ela iria puxar esse assunto mais
cedo ou mais tarde, mas não esperava que ela fizesse isso tão cedo, assim, de
repente, sem aviso prévio. Fiquei um pouco assustado com a reação que ela teria
à minha resposta, mas tinha dito a mim mesmo que seria sincero com ela, então
não hesitei ao responder.
– Eu sei, e
lamento que tenha presenciado. Não quero que faça uma ideia errada de mim. – Depois
do que ela viu era difícil imaginar o que ela pensava. Se fosse eu estaria
pensando coisas não muito boas. Mas eu ia tentar mudar isso.
– E que ideia
seria essa?
– Que exista
entre Aphrodite e eu algo além do que realmente há. – Não havia mais nada entre
Aphrodite e eu e eu só estava naquele corredor naquela hora para terminar tudo
definitivamente. Pensar que talvez eu não tivesse chance com Zoey por causa de
Aphrodite me deixou nervoso.
– Não é da
minha conta. – Ela disse. Mas eu queria que fosse da conta dela.
Dei de ombros
e disse – Só quero que você saiba que eu e ela não estamos mais ficando. – Que eu estou
livre caso você me queira. – Completei em pensamento.
Zoey pareceu
pensar um pouco no que eu disse. Decidindo, talvez, se acreditava ou não no que
eu estava dizendo.
– Tudo bem.
Então vocês não estão ficando.
Parecia que um
peso enorme tinha sido tirado das minhas costas. Eu quase sorri, mas ela não
entenderia minha reação. Ela não pareceu estar dizendo isso só por dizer.
Parecia que ela acreditava em mim. E eu passei a gostar dela mais ainda, se é
que isso fosse possível. Como ela podia ser tão compreensiva? Claro que eu
queria isso, mas Aphrodite aprontou um monte com ela essa noite e a primeira
coisa que ela presenciou ao chegar aqui na Morada da Noite foi nossa cena nada
agradável. Ela poderia pensar que eu era mais uma armadilha de Aphrodite... o
que me fez lembrar o que Aphrodite tinha feito com Zoey no ritual das Filhas
das Trevas. Eu estava com raiva quando voltei a falar com Zoey, com raiva de
Aphrodite, e minha voz saiu um pouco mais áspera do que eu esperava.
– Aphrodite
não lhe contou sobre o sangue no vinho. –
Não era uma pergunta.
– Não. – Eu já
sabia a resposta. Mas ouvir isso da boca de Zoey me fez ficar com mais raiva
ainda. Aphrodite não prestava mesmo.
– Ela me disse
que ia te contar. Disse que contaria quando você estivesse mudando de roupa,
para que você pudesse deixar de beber se não quisesse. – E era isso que ela
deveria ter feito. Ela estava em treinamento para ser a Grande Sacerdotisa,
pelo amor de Nyx! Como ela podia ser assim? Em um ritual que ela estava oferecendo
à Deusa!
– Ela mentiu.
– Nada muito
surpreendente.
– Você acha? –
Zoey falou com raiva, quase gritando, o que me assustou um pouco. – Isso tudo
está muito errado. Elas me pressionam para ir ao ritual das Filhas das Trevas e
me fazem beber sangue sem saber. Depois encontro meu ex-quase-namorado que é
cem por cento humano e nenhum desgraçado me avisou que a mínima gota de sangue
me transformaria num... num... monstro. – Ela mordeu os lábios para não chorar
novamente, dessa vez de raiva. Seus olhos estavam cheios de água.
Eu queria abraçá-la
e reconfortá-la em meus braços. Ela estava muito confusa, e com razão, depois
de tudo o que acontecera hoje. Mas ninguém esperava essas reações dela. Ela era
somente uma novata e todos esperávamos que ela agisse como qualquer outro
novato da Morada da Noite. Porém, ela não era uma novata qualquer. E isso era
mais confuso, não só para ela, mas para mim também.
A única coisa
que eu poderia fazer agora era tentar explicar-lhe algumas coisas que eu sabia.
Não sabia muita coisa, mas estava começando a estudar sobre a sede de sangue e
tentaria explicar alguma coisa para que ela não se sentisse tão perdida.
– Ninguém lhe
explicou porque esse tipo de coisa não era para começar a acontecer antes de
você entrar no sexto ano. – Falei baixinho, para ver se ela se acalmava um
pouco.
– Ahn?
– Sede de
sangue não costuma começar antes de você estar no sexto ano e com a
Transformação praticamente completa. Às vezes a gente ouve falar de alguns
casos do quinto ano que passam por isso logo cedo, mas não acontece muito.
– Espere... o
que está dizendo? – Era difícil para ela entender, eu sabia. Tantas coisas
aconteceram a ela em tão pouco tempo.
– Você começa
a ter aulas sobre sede de sangue e outras coisas que acontecem com os vampiros
maduros no quinto período, e depois, no último ano, a matéria básica na escola
é essa, além de qualquer outra na qual você deseje se formar – expliquei.
– Mas sou
terceira-formanda; aliás, mal se pode falar que sou, eu fui Marcada faz poucos
dias. – É. Ela tinha sido Marcada há poucos dias. Mas sua Marca era linda e
estava completa, mesmo em tão pouco tempo. Eu não sabia a razão, mas Nyx devia
ter um plano especial para essa garota.
– Sua Marca é
diferente; você é diferente.
– Eu não quero
ser diferente! – Ela estava gritando de novo.
Eu entendia
sua frustração. As mudanças de humano para vampiro não são fáceis. Acrescente a
isso sensações que você ainda não deveria estar tendo, sem que você tenha a
mínima noção do que está acontecendo. Mas sua alteração de voz me pegou de
surpresa e eu olhei para ela assustado. Ela tinha todo aquele poder na voz
novamente, como quando tinha falado com Heath.
Ela deve ter
percebido que estava gritando, porque continuou em um tom mais ameno. – Só
quero entender como faço para passar por isso como todo mundo.
– Tarde
demais, Z. – Gostei do apelido, melhor que Zo, com certeza. Esperava que ela
não achasse ruim. E pareceu que não. Ela tinha que entender que ela era
diferente, e que, talvez, isso não fosse tão ruim assim. A Deusa tinha um plano
para ela.
– Então, e
agora? – Ela disse baixinho, tentando obter informações que eu infelizmente não
tinha.
– Acho que é
melhor você conversar com sua mentora. Neferet, não é? – Quando tínhamos um
problema, era com nossos mentores que conversávamos. Todos os novatos. Eles são
nossos guias nessa nova etapa e têm muito mais conhecimento.
– É. – Ela
disse desanimada.
– Ei,
anime-se. Neferet é ótima. Ela raramente aceita novatos, então ela deve
realmente confiar em você. – A última que eu saiba, tinha sido Aphrodite, e ela
não parecia muito feliz com a decisão nos últimos tempos.
– Eu sei, eu
sei. É só que isso me faz sentir... estúpida. Fico me sentindo estúpida. – Ela
disse estúpida, mas parecia que estava com vergonha de ter que contar o que
aconteceu hoje à noite. Eu gostaria de ter mais informações para passar para
ela, mas ainda estava estudando essa parte de desejo de sangue, só sabia o
básico. Então, ela teria que procurar Neferet. Era a única forma de saber como
lidar com isso.
– Não se sinta
estúpida. Na verdade você está bem à frente de todos nós. – E era verdade. Só
vampiros Transformados sentem desejo de sangue. Fora a Marca completa que ela
já tinha.
– Então...
você gostou do gosto do sangue naquela taça? – Ela me perguntou. Eu queria dizer
que sim e fazer ela se sentir melhor, mas não ia mentir para ela, então tentei
escapar pela tangente.
– Bem, o
negócio é o seguinte: meu primeiro Ritual de Lua Cheia com as Filhas das Trevas
foi no fim do meu terceiro ano. A não ser pela “geladeira” que também estava lá
naquela noite, eu era o único do terceiro ano por lá; como você hoje. – Zoey me
olhava esperando por minha resposta, e eu me senti meio sem graça de estar
contando tudo isso. Só me dei conta de que parecia que eu estava querendo
aparecer depois que já tinha começado. Dei um sorrisinho sem graça para ela e
tentei arrumar.
– Eles só me
chamaram porque eu fui finalista do concurso de monólogos de Shakespeare
e ia tomar um avião para a final em Londres no dia seguinte. – Ela me olhou com
cara de quem não estava entendendo nada. E eu me lembrei de que provavelmente
ela não sabia mesmo, pois tinha acabado de chegar aqui. E eu ainda parecia
estar me gabando. Dei-lhe um olhar constrangido e tentei consertar mais uma
vez.
– Ninguém
dessa unidade da Morada da Noite conseguiu chegar a Londres. Foi algo
importante. – Pois é. Realmente sou um idiota! Agora eu estava me considerando
alguém importante. Eu estava tão nervoso que não conseguia me expressar
direito! Balancei a cabeça frustrado comigo mesmo, agora não tinha mais volta, mas
tentei me expressar corretamente.
– Na verdade,
achei que eu fosse importante. Então as Filhas das Trevas me chamaram para
fazer parte do grupo, e eu aceitei. Eu sabia sobre o sangue. Eu tive a
oportunidade de rejeitar. Mas não rejeitei.
– Mas gostou? –
Essa era a pergunta que eu não queria responder. Mas ia ser sincero.
– Eu engasguei
e vomitei tudo. Foi a coisa mais nojenta que já havia provado. – Eu ri com
vontade, me lembrando da cena. Eu saí correndo do ritual e quase não consegui
chegar lá fora para vomitar.
Zoey gemeu e
escondeu o rosto nas mãos.
– Você não
está me ajudando.
– Por que,
você gostou? – Eu achava que ela tinha gostado, mas não ia dizer isso. Deixei
que ela me contasse se eu estava certo ou não.
– Mais do que isso. – Ela disse ainda com o
rosto entre as mãos. – Você diz que é a coisa mais nojenta que você já provou?
Para mim foi a coisa mais deliciosa. Bem, a mais deliciosa até eu... – Ela parou
de repente. Talvez com vergonha do que ia dizer. Então completei a frase para
ela. Eu ia contar que tinha presenciado o que tinha acontecido entre ela e
Heath e essa era minha oportunidade.
– Até
experimentar sangue fresco? – Perguntei gentilmente.
Ela fez que
sim com a cabeça, mas não conseguiu falar.
– Não fique
constrangida nem com vergonha. Isso é normal.
– Gostar do
gosto de sangue não é normal. Para mim, não é.
– É, sim.
Todos os vampiros precisam conviver com sua sede de sangue.
– Eu não sou
vampira!
– Talvez não
seja ainda. Mas você com certeza não é do tipo de novata comum, e não tem nada
de errado com isso. Você é especial, Zoey, e ser especial pode ser o máximo.
Tirei seu
rosto de suas mãos para que ela me olhasse e tracei o pentagrama novamente em
sua testa. A sensação foi incrível. Sua pele macia como seda estava gelada
sobre meu dedo quente. A Marca em sua testa era linda, não me cansava de olhar
para ela. Senti vários calafrios passarem por minha coluna, meu estômago se
contorceu com a ansiedade. Eu queria chegar mais perto, envolver seu rosto com
minhas mãos e beijá-la. Meu coração estava batendo com as asas de um beija-flor,
de tão rápido que estava. Estávamos em silêncio e ela parecia querer o mesmo
que eu.
Seus olhos de
repente mudaram. Passaram de desejo e admiração para medo e desconfiança.
– O que você
está fazendo aqui, Erik?
Suspirei baixinho.
Minha pulsação se acalmando. Eu ia confessar que a tinha seguido, mas não
estava tão nervoso. O toque em sua pele me acalmou, apesar das outras sensações
que me causou.
– Eu segui
você.
– Por quê?
– Eu imaginei
o que Aphrodite havia colocado na bebida e achei que talvez você estivesse
precisando de um amigo. Você está dividindo quarto com Stevie Era, certo?
Ela fez que
sim com a cabeça.
– É, pensei em
procura-la e trazê-la aqui para ajudar você, mas não sabia se você ia querer
que ela soubesse que... – Dei uma olhada para o centro de recreações para mostrar
do que eu estava falando. E ela entendeu.
– Não! Eu...
eu não quero que ela saiba. – Ela se enrolou um pouco ao falar rápido demais.
– Foi o que
pensei. Então é por isso que estou aqui. – Eu dei um sorriso sem graça. Era melhor
confessar tudo de uma vez. – Eu realmente não tive intenção de ouvir o que você
e Heath estavam dizendo. Desculpe.
Ela acariciou
a gata que estava em seu colo, corou um pouco, talvez com vergonha de que eu a
tivesse flagrado, mas de repente ela me olhou com um sorriso divertido no
rosto.
– Acho que
isso nos deixa quites. Eu também não tive a intenção de ouvir você e Aphrodite.
– Estamos
quites. Gostei disso. – Retribuí o sorriso. Estava feliz demais por sua reação.
Suas bochechas coraram de novo.
– Eu não ia
descer voando para sugar o sangue de Kayla.
Dessa vez eu
tive que rir. Parecia que o clima chato tinha passado. Ela já estava fazendo brincadeiras.
– Eu sei
disso. Vampiros não voam.
– Mas ela
ficou apavorada. – Zoey disse impressionada.
– Pelo que eu
ouvi, ela mereceu...
Parei um pouco
para me lembrar da cena. O clima entre nós estava muito bom agora e eu não
queria estragar, mas estava curioso sobre uma coisa.
– Posso lhe
perguntar uma coisa? É meio pessoal. – Resolvi arriscar.
– Ei, você me
viu beber sangue de uma taça e gostar, me viu vomitar, beijar um cara, lamber o
sangue dele como se eu fosse uma cachorrinha, chorar que nem um bezerro
desmamado. E eu vi você naquele dia, no corredor. Acho que dá para responder
uma pergunta meio pessoal. – Que bom que ela ainda estava de bom humor. Estava
cada vez mais encantado por ela.
– Ele estava
mesmo em transe? Ele parecia estar e gostar.
Ela mudou o
corpo de posição, parecendo desconfortável. A gata que estava em seu colo
reclamou e ela logo começou a acariciá-la para acalmar a gata. Ela respirou
fundo antes de responder.
– Parece que
ele estava. Não sei se ele estava em transe ou não, e não tive a menor intenção
de coloca-lo sob meu controle ou qualquer coisa do tipo, mas ele mudou. Sei lá.
Ele andou bebendo e fumando. Talvez só estivesse doidão.
Pensei por um
momento no que ela tinha dito, mas me pareceu que ele estava em transe.
– Ele estava
assim o tempo todo ou só depois que você... hummm... começou a... – Fiquei um
pouco desconfortável em terminar a frase. Talvez estivesse passando dos
limites. Mas Zoey respondeu.
– Não o tempo
todo. Por quê?
Então ela o
tinha mesmo colado em transe. Isso era muito difícil, pelo que eu sabia. Mas
não queria assustá-la, nem dar mais coisa para ela pensar.
– Bem, isso
elimina duas coisas que poderiam estar fazendo com que ele agisse de modo
estranho. Uma: se ele estivesse apenas doidão, teria estado assim o tempo
inteiro; dois: ele podia estar agindo assim porque você é realmente muito
linda, e isso bastaria para deixar um cara em transe ao seu lado. – Aproveitei a
situação para tentar mostrar a ela como me sentia.
– É mesmo? – Zoey
pareceu surpresa. Por
que ela está surpresa? Será que não percebe o quanto é linda? Em como ela
deixou todos os meninos da Morada da Noite interessados nela assim que chegou?
– É mesmo. –
Disse com a maior intensidade que consegui, sorrindo para ela.
Zoey baixou os
olhos e voltou a acariciar a gata. Sem graça.
– Mas também
não foi isso, pois ele deveria ter reparado como você é atraente antes mesmo de
você beijá-lo, e o que você está dizendo é que ele não parecia arrebatado antes
do sangue entrar na história. – Zoey sorriu com o elogio. Seu sorriso era
lindo. E me deixava extasiado.
– Na verdade, começou
quando eu comecei a escutar o sangue dele.
O quê?
– Repita. –
Não podia acreditar. O que ela disse? Que escutou o sangue dele?
Isso não era possível! Bem, agora eu estava confuso.
– Heath
começou a mudar quando eu ouvi o barulho do sangue pulsando em suas veias.
– Só vampiros
adultos conseguem ouvir isso. – Eu disse de repente. Aí me lembrei de que não
queria assustá-la. Ela deveria falar sobre isso com Neferet, ela saberia melhor
como agir. – Heath para mim soa como
nome de astro de novelas gay. – Disse
para mudar de assunto.
– Quase isso.
Ele é um astro do futebol, zagueiro do Broken Arrow. – Eu ri. Tinha que
ser!
– Ah, aliás,
eu gostei do nome que você adotou. – Zoey continuou. – Night é um sobrenome
legal.
Então ela
gostou do meu nome. Eu sorri ainda mais. Ela parecia querer fazer um elogio
para mim. E eu gostei, apesar de ela estar errada.
– Eu não
mudei. Erik Night é meu nome de registro.
– Ah, bem. Eu
gosto. – Ela disse sem graça.
– Obrigado. –
Eu ainda estava sorrindo.
Olhei para o
relógio e vi que eram quase seis e meia. – Dei um suspiro. Por que as coisas boas acabam rápido?
– Em breve vai
clarear. – Disse.
Zoey começou a
se levantar, um pouco desajeitada por estar segurando sua gata, e eu a ajudei
segurando seu cotovelo. Aquele simples toque fez meu coração disparar
novamente. Fiquei parado perto dela, tão próximo que sentia o rabo do gato esbarrar
em mim.
Não queria que
esse momento acabasse. Ainda não estava pronto para me despedir. Eu estava
próximo, mas não parecia ser próximo o bastante. Eu queria mais. Queria sentir
seu corpo, seus lábios. Mas estava inseguro em tentar. Não suportaria ser
rejeitado. Não por Zoey.
– Eu ia lhe
perguntar se você quer comer alguma coisa, mas o único lugar servindo comida no
momento é o centro de recreações, e imagino que você não queira voltar lá. – Eu
disse, tentando quebrar a tensão.
– Não, com
certeza não. – Zoey disse rapidamente. – Mas não estou mesmo com fome. –
Imaginei que isso era outra mentira. Mas, depois de tudo o que aconteceu,
talvez ela ainda estivesse enjoada e realmente não estivesse com fome.
– Bem, você se
importa se eu lhe acompanhar até o dormitório? – Eu ainda poderia ter mais
alguns minutos ao seu lado.
– Não. – Ela tentou
dizer com indiferença, mas eu percebi um pequeno tom surpreso em sua voz.
Caminhamos um
pouco em silêncio, mas não estávamos desconfortáveis. Só apreciávamos o
restinho do tempo juntos. Eu queria muito segurar sua mão. Nossos braços se
roçavam de vez em quando e a cada vez um calafrio passava por minha coluna.
Resolvi que tinha que dizer alguma coisa, antes que eu a agarrasse e beijasse
ali mesmo.
– Ah, eu não
terminei de responder sua pergunta. A primeira vez que bebi sangue em um dos
rituais das Filhas das Trevas eu odiei, mas depois foi melhorando cada vez
mais. Não posso dizer que acho delicioso, mas fui me acostumando. E com certeza
adoro o que sinto quando bebo.
Ela me olhou
de modo penetrante.
– Fica tonto e
de pernas meio bambas? Como se estivesse bêbado, sem estar.
– É. – De repente
me lembrei de algo. – Ei, você sabia que é impossível um vampiro ficar bêbado?
Ela fez que
não com a cabeça.
– Tem a ver
com o que a Transformação provoca em nosso metabolismo. Os novatos têm até
dificuldade em ficar doidões. – Completei.
– Bem, então
porque ninguém avisou aos professores o que Aphrodite está fazendo?
– Ela não está
bebendo sangue humano.
– Ahn, Erik,
eu estava lá. Com certeza tinha sangue no vinho e era sangue daquele garoto, o
Elliot. – Ela estremeceu. – E que escolha horrorosa, ele.
– Mas ele não
é humano. – Eu disse com um sorriso.
– Espere aí...
é proibido beber sangue humano. – Ela disse devagar, parecendo absorver suas
palavras. – Mas não tem problema beber sangue de outro novato?
– Só se for
consensual. – Expliquei.
– Isso não faz
sentido.
– Claro que
faz. É normal que nossa sede por sangue se desenvolva à medida que nossos
corpos se transformam, de modo que precisamos de uma válvula de escape. Os
novatos se curam rapidamente, portanto não há chance de ninguém se ferir de
verdade. E não há nenhum efeito colateral, como quando um vamp se alimenta de um humano vivo.
Zoey pareceu
confusa. De repente ela gritou.
– Humano vivo?
Diga que isso não significa que a outra opção seria alimentar-se de um cadáver.
Eu ri. Beber
sangue de um cadáver. Somente Zoey mesmo poderia pensar em algo assim.
– Não, – eu
ainda estava rindo – a outra opção seria beber sangue colhido dos doadores dos
vampiros.
– Nunca ouvi
falar disso.
– A maioria
dos humanos nunca ouviu falar. Você só vai estudar isso no quinto ano.
Ela pensou
mais um pouco e perguntou com um pouco de medo.
– O que você
quer dizer com efeitos colaterais?
– Começamos a
estudar isso agora em sociologia vampírica 312. Parece que quando um vampiro
adulto se alimenta de um humano vivo um laço muito forte se forma. Nem sempre o
laço é da parte do vamp, mas os
humanos ficam apaixonados com a maior facilidade. É perigoso para os humanos.
Quer dizer, pense só. A perda de sangue em si não é boa coisa. Acrescente a
isso o fato de que vivemos décadas, às vezes séculos mais que os humanos. Pense
nisso do ponto de vida humano: deve realmente ser uma droga você se apaixonar
totalmente por uma pessoa que nunca envelhece enquanto você fica velho e
enrugado e depois morre.
– É, deve ser
uma droga. – Zoey disse sem emoção, olhando para baixo. Ela devia estar
pensando no que tinha acontecido entre ela e Heath e que com certeza teria que
procurar Neferet.
Não queria deixa-la
agora, mas tínhamos chegado ao seu dormitório. Com muita má vontade eu disse. –
Chegamos.
Zoey olhou a
sua volta com surpresa. Parecia que ela não queria que essa noite terminasse
tanto quanto eu.
Ela me olhou e
disse com um sorriso irônico nos lábios. – Bem, obrigada por me seguir, acho. –
Como ela era linda.
– Ei, sempre
que você quiser alguém para se meter onde não foi chamado, conte comigo.
– Vou me
lembrar disso. Obrigada. – Ela apoiou a gata na cintura e começou a abrir a porta
do dormitório feminino.
Era isso, eu
tinha que pensar em alguma coisa rapidamente. Não queria deixa-la ir.
– Ei, Z. – Eu a chamei.
Ela se virou.
– Não devolva
o vestido a Aphrodite. Ao incluí-la no círculo desta noite, ela formalmente lhe
ofereceu uma posição entre as Filhas das Trevas, e a tradição manda que a
Grande Sacerdotisa em treinamento dê um presente ao novo membro em sua primeira
noite. Imagino que você não queira entrar no grupo, mas mesmo assim você tem
direito a ficar com o vestido. Principalmente porque você fica muito melhor com
ele do que ela.
Eu me
aproximei dela e peguei sua mão. Virei seu pulso em minha direção e tracei sua
veia com o dedo, sentindo seu sangue pulsar. Sua pulsação se acelerou. Olhei em
seus olhos.
– E você deve
saber também que eu sou o cara com quem você deve contar se resolver provar
mais um pouquinho de sangue. Lembre-se disso também.
Eu me abaixei,
ainda olhando em seus olhos, e resolvi arriscar um pouquinho.
Passei meus
dentes de levinho em seu pulso, dando a sensação de que fosse mordê-lo. Era o
meu coração agora que disparava. Sempre que olhava em seus olhos eu me perdia e
quase não consegui me segurar. Fechei os olhos com a sensação que me tomou.
Estava muito excitado. Dei um beijo suave em seu pulso e voltei a olhá-la nos
olhos. Precisava ver sua reação. Sua respiração se acelerou, assim como a
minha. Eu a desejava loucamente. Passei a língua em seu pulso, e a sensação foi
de uma corrente elétrica passando por nossos corpos. Senti Zoey tremer
levemente. Tinha que sair dali antes que fizesse algo que me arrependesse
depois. Estava ficando louco! Sorri para Zoey, me virei e fui para o dormitório
dos meninos.
Continua...