Bem pessoal, estou um pouco atarefada nesse final de ano e estou atrasada com o 6º Capítulo da minha fanfic de Erik Night. Peço desculpas a todos os meus leitores.
Porém, para que vocês tenham alguma coisa para ler, resolvi postar o livro Midnight Sun ou Solda da Meia Noite (em português), da famosa autora Stephenie Meyer, da série Crepúsculo.
Ela começou a escrever Midnight Sun, porém, como o livro foi publicado na internet sem seu consentimento (por algum sem noção a quem ela pediu a opinião), ela ficou frustrada e não terminou de escrvê-lo. Diz ela, que um dia, se der na telha, ela termina. Então, ela mesma disponibilizou o que ela já tinha escrito para seus fãs. Por isso, essa não é uma publicação pirata.
Bem, o livro é a história do Crepúsculo, porém, contada na visão de Edward Cullen (foi daqui que tirei a idéia de escrever Marcada na visão de Erik Night). Eu adorei a versão do Edward!
O livro possui somente 12 capítulos, e o 12º não está terminado, o que, confesso, é uma frustração para quem está lendo. Já vou avisar que nessa versão eles não chegam nem ao primeiro beijo, portanto, se você acha que vai se estressar por isso, nem comece a leitura.
Achei várias traduções para baixar na internet, porém, todas elas estavam muito ruins, mal formatadas e mal traduzidas. Por isso, resolvi traduzir e reformatar o livro eu mesma, baixando o livro em inglês pelo link disponibilizado no site oficial da Stephanie Meyer.
Sei que vou sair um pouco do propósito desse blog, mas vamos dizer que é um presentinho de final de ano (para aqueles que gostam da série). Para aqueles que não gostam, a minha sugestão, é que leiam pelo menos o primeiro capítulo, pois a versão de Edward é bem mais empolgante.
Boa leitura e Boas Festas!
1.
À PRIMEIRA VISTA
Essa era a
hora do dia em que eu desejava poder dormir.
Segundo grau.
Ou purgatório
seria a palavra certa? Se houvesse
uma maneira de conciliar os meus pecados, isso devia contar no ajuste de alguma
forma. O tédio não era uma coisa com a qual eu me acostumei; cada dia parecia
mais impossivelmente monótono do que o último.
Acho que essa
era a minha forma de dormir – se dormir
fosse definido como um estado de inércia entre períodos ativos.
Olhei para as
rachaduras no gesso no canto mais distante do refeitório, imaginando padrões
por dentro deles que não estavam lá. Essa era a única forma de desconectar as
vozes que tagarelavam como o jorro de um rio dentro da minha cabeça.
Várias centenas
de vozes que eu ignorava por pura chateação.
Quando se
tratava da mente humana, eu já tinha ouvido tudo e mais um pouco. Hoje, todos
os pensamentos estavam sendo consumidos com o drama comum de uma nova adição ao
pequeno corpo estudantil daqui. Não levou muito tempo para ouvir todos eles. Eu
havia visto o rosto se repetindo em pensamento após pensamento sob todos os
ângulos. Só uma garota humana normal. A excitação pela chegada dela era
cansativamente previsível – como um objeto brilhante para uma criança. Metade
do corpo estudantil masculino já estava se imaginando apaixonado por ela, só
porque ela era algo novo pra se olhar. Eu tentei desconectá-los mais ainda.
Só quatro
vozes eu bloqueava por cortesia e não por desgosto: minha família, meus dois irmãos
e duas irmãs, que estavam tão acostumados pela falta de privacidade com a minha
presença que eles raramente pensavam sobre isso. Eu dava a eles a privacidade
que eu podia. Eu tentava não escutar se eu pudesse evitar.
Tentar como
eu podia, ainda assim... eu sabia
Rosalie
estava pensando, como sempre, nela mesma. Ela viu o reflexo de seu perfil nos
óculos de alguém, e ela estava meditando sobre sua própria perfeição. A mente
de Rosalie era uma piscina rasa, com poucas surpresas.
Emmett estava
fumegando sobre uma partida de wrestling
que ele perdeu para Jasper durante a noite. Ele usaria toda a sua limitada paciência
para orquestrar sua revanche até o fim das aulas de hoje. Eu nunca me senti um
intruso lendo os pensamentos de Emmett, porque ele nunca pensava em uma coisa
que ele não diria em voz alta ou colocaria em ação. Talvez eu só me sentisse
culpado de ouvir as outras mentes porque eu sabia que havia coisas que eles não
queriam que eu soubesse. Se a mente de Rosalie era uma piscina rasa, a mente de
Emmett era um lago sem sombras, claro como o vidro.
E Jasper
estava... sofrendo. Eu suprimi uma visão.
“Edward.” – Alice chamou meu nome em sua cabeça, e teve
minha atenção imediatamente.
Era
exatamente como se ela estivesse chamando o meu nome em voz alta. Eu ficava
feliz que o nome que me foi dado havia saído um pouco de moda ultimamente –
isso era incômodo; toda vez que alguém pensava em um Edward qualquer,
minha cabeça se virava automaticamente...
Minha cabeça
não se virou agora. Alice e eu éramos bons nessas conversas privadas. Era raro
quando alguém nos flagrava. Mantive meus olhos nas linhas do gesso.
“Como ele está aguentando?” – Ela me perguntou.
Eu fiz uma
careta só com um pequeno movimento da minha boca. Nada que pudesse alertar os
outros. Eu podia facilmente estar fazendo uma careta de chateação.
O tom mental
de Alice estava alarmado agora, eu vi na mente dela que ela estava observando
Jasper com a sua visão periférica. “Há
algum perigo?” – Ela procurou à frente, no futuro imediato, vasculhando por
visões de monotonia para a fonte da minha careta.
Eu virei
minha cabeça lentamente para a esquerda, como se estivesse olhando para os
tijolos na parede, suspirei, e depois para a direita, de volta para as
rachaduras no teto. Só Alice sabia que eu estava balançando a minha cabeça.
Ela relaxou. “Avise-me se piorar”.
Eu mexi
apenas os meus olhos para cima, para o teto, e pra baixo de novo.
“Obrigada por estar fazendo isso”.
Eu estava
feliz por não poder respondê-la em voz alta. O que eu iria dizer? 'O prazer é
meu'? Não era bem assim. Eu não gostava de ouvir as lutas de Jasper. Era mesmo
necessário fazer experiências como essas? Será que o caminho mais seguro não era
admitir que ele jamais seria capaz de lidar com a sede do jeito que nós
fazíamos, e não forçar os limites dele? Pra quê flertar com o desastre?
Já fazia duas
semanas desde a nossa última viagem de caça. Esse não era um tempo imensamente
difícil para o resto de nós. Ocasionalmente era um pouco desconfortável – se um
humano se aproximasse demais, se o vento soprasse na direção errada. Mas os
humanos raramente se aproximavam demais. Seus instintos lhes diziam o que suas
mentes conscientes não podiam entender: nós éramos perigosos.
Jasper era
muito perigoso agora.
Nesse
momento, uma garota pequena pausou na ponta da mesa mais próxima da nossa,
parando para falar com uma amiga. Ela alisou o seu cabelo curto, cor de areia,
passando os dedos por ele. Os aquecedores jogaram o cheiro na nossa direção. Eu
já estava acostumado ao jeito que esse cheiro me fazia sentir – a dor seca na
minha garganta, o grito vazio no meu estômago, a contração automática dos meus
músculos, o excesso do fluxo de veneno na minha boca...
Tudo isso era
muito normal, geralmente fácil de ignorar. Só que era mais difícil agora, com
esses sentimentos mais fortes, duplicados, enquanto eu monitorava a reação de
Jasper. Era uma sede gêmea, não apenas a minha.
Jasper estava
deixando a sua imaginação se separar dele. Ele estava imaginando – imaginando ele
se levantando do lugar dele ao lado de Alice e indo ficar ao lado da garota.
Pensando em se inclinar pra baixo e pra frente, como se ele fosse cochichar em
seu ouvido, e deixando seus lábios tocarem o arco de sua garganta. Imaginando
como seria a sensação de sentir o fluxo quente de seu pulso por baixo de sua
pele fina em sua boca...
Eu chutei a
cadeira dele.
Ele me olhou
nos olhos por um minuto e depois olhou para baixo. Eu podia ouvir a vergonha e
a rebeldia guerreando na cabeça dele.
– Desculpe –
Jasper murmurou.
Eu levantei
os ombros.
– Você não ia
fazer nada – Alice murmurou pra ele, acalmando seu pesar. – Eu poderia ver.
Eu lutei
contra a careta que teria denunciado a mentira dela. Nós tínhamos que
permanecer juntos, Alice e eu. Não era fácil ouvir vozes ou ter visões do futuro.
Duas aberrações no meio daqueles que já eram aberrações. Protegíamos os
segredos um do outro.
– Ajuda um
pouco se você pensar neles como seres humanos – Alice sugeriu, sua voz alta,
musical, rápida demais para os ouvidos humanos entenderem, se algum deles
estivesse perto o suficiente pra ouvir. – O nome dela é Whitney. Ela tem uma
irmãzinha que ela adora. A mãe dela convidou Esme para aquela festa de jardim,
você se lembra?
– Eu sei quem
ela é – Jasper disse curtamente. Ele se virou pra olhar por uma das pequenas
janelas que eram colocadas bem embaixo das vigas pela grande sala. O tom dele
acabou com a conversa.
Ele teria que
caçar hoje à noite. Era ridículo se arriscar desse jeito, tentando testar sua
força, tentando construir sua resistência. Jasper deveria simplesmente aceitar
suas limitações e trabalhar com elas. Seus hábitos antigos não condiziam com os
hábitos que nós escolhemos; ele não devia exigir tanto de si mesmo desse jeito.
Alice
suspirou baixinho e se levantou, levando sua bandeja de comida – seu adereço,
isso é o que era – com ela e deixando-o sozinho. Ela sabia quando ele já estava
de saco cheio dos encorajamentos dela. Apesar de Rosalie e Emmett serem mais
abertos em relação ao relacionamento deles, eram Alice e Jasper que conheciam
cada traço do humor do outro como o seu próprio. Como se eles pudessem ler
mentes também – somente um do outro.
“Edward Cullen”.
Reação por
reflexo. Eu me virei com o som do meu nome sendo chamado, apesar de ele não
estar sendo chamado, só pensado.
Meus olhos se
prenderam por uma pequena fração de segundo com um grande par de olhos humanos,
cor de chocolate num rosto pálido, com formato de coração. Eu já conhecia o
rosto, apesar de nunca tê-lo visto até esse momento. Ele esteve em quase todas
as cabeças humanas hoje. A nova estudante, Isabella Swan. Filha do chefe de
polícia da cidade, trazida pra viver aqui por uma nova situação de custódia.
Bella. Ela corrigia todo mundo que usava o seu nome inteiro...
Eu desviei o
olhar, enfadado. Eu levei um segundo para me dar conta de que não fora ela quem
pensou no meu nome.
“É claro que ela já está se apaixonando pelos
Cullen”
– eu ouvi o primeiro pensamento continuar.
Agora eu
reconhecia a "voz". Jéssica Stanley – já fazia um tempo que ela me
incomodava com as suas tagarelices internas. Foi um alívio quando ela se curou
da sua paixão deslocada. Era quase impossível escapar dos seus constantes,
ridículos sonhos diurnos. Eu desejei, naquele tempo, poder explicar exatamente
o que teria acontecido se os meus lábios, e os dentes atrás deles, chegassem a
algum lugar perto dela. Isso teria silenciado aquelas fantasias incômodas. O
pensamento da reação dela quase me fez sorrir.
“Grande bem que vai fazer para ela” – Jéssica continuou. – “Ela não é nem bonita. Eu não sei por que Eric
está olhando tanto pra ela... Ou Mike”.
Ela suspirou
mentalmente no último nome. A nova paixão dela, o genericamente popular Mike
Newton, era completamente inconsciente dela. Aparentemente, ele não era tão
inconsciente sobre a garota nova. Como a criança com o objeto brilhante de
novo. Isso colocou uma pontada maligna nos pensamentos de Jessica, apesar de
ela ser externamente cordial com a recém-chegada enquanto explicava os
conhecimentos comuns sobre a minha família. A nova estudante deve ter perguntado
sobre nós.
“Hoje todos estão olhando pra mim também” – Jéssica pensou
presumidamente em um aparte. – “É uma
sorte que Bella tenha duas aulas comigo... Eu aposto que Mike vai perguntar o
que ela"...
Eu tentei
bloquear a tagarela antes que a mesquinharia e a insignificância me deixassem
louco.
– Jéssica Stanley
está contando à nova garota Swan todos os podres do clã Cullen – eu murmurei
pra Emmett como distração.
Ele gargalhou
por debaixo do fôlego. – “Eu espero que
ela esteja fazendo isso direito” – ele pensou.
– Na verdade,
muito pouco criativo. Só a pequena ponta do escândalo. Nenhuma fofoca
horrorosa. Eu estou um pouco desapontado.
“E a garota nova? Ela também está desapontada com
a fofoca?”
Eu tentei
escutar o que essa nova garota, Bella, estava pensando das histórias de
Jéssica. O que ela via quando olhava para a estranha família com peles pálidas
que era universalmente evitada?
Era meio que
a minha obrigação saber a reação dela. Eu agia como um espião – por falta de uma palavra melhor – para a minha família.
Para nos proteger. Se alguém começasse a suspeitar, eu podia nos dar a chance
de ter um aviso prévio para nos retirarmos facilmente. Isso acontecia
ocasionalmente – algum humano com uma mente ativa nos via como personagens de
um livro ou um filme. Geralmente eles entendiam tudo errado, mas era melhor nos
mudarmos pra algum lugar novo do que arriscarmos o escrutínio. Muito, muito
raramente, alguém adivinhava corretamente. Nós não dávamos a eles uma chance de
testar suas hipóteses. Nós simplesmente desaparecíamos, para nos tornarmos nada
além de uma memória assustadora...
Eu não ouvi
nada, apesar de ouvir onde a tagarelice frívola de Jéssica continuava jorrando
ali perto. Era como se não houvesse ninguém sentado ao lado dela. Que peculiar,
será que a garota nova tinha ido embora? Não parecia provável, já que Jéssica
continuava fofocando com ela. Eu olhei pra cima pra checar, me sentindo meio
desequilibrado. Checar o que os meus "ouvidos" extras podiam me dizer
– era uma coisa que eu nunca tinha feito.
De novo, os meus olhos se prenderam naqueles
mesmos grandes olhos marrons.
Ela estava
sentada lá exatamente como antes, olhando pra nós, uma coisa natural a se
fazer, eu acho, já que Jéssica ainda estava espalhando as fofocas locais sobre
os Cullen.
Pensar em nós
também seria natural.
Mas eu não
ouvia nem um sussurro.
Um quente e
convidativo vermelho coloriu suas bochechas quando ela olhou para baixo,
desviando o olhar da embaraçosa gafe de ser pega encarando um estranho. Era bom
que Jasper ainda estivesse olhando para a janela. Eu não gostava de imaginar o
que aquele simples agrupamento de sangue faria com o controle dele.
As emoções
estavam tão claras como se elas tivessem sido palavras saindo pela testa dela:
surpresa, enquanto ela, sem saber, absorvia as diferenças entre a espécie dela
e a minha; curiosidade, enquanto ela escutava os contos de Jéssica; e algo
mais... Fascínio? Não seria a primeira vez. Nós éramos lindos pra eles, a nossa
presa. E depois, finalmente, vergonha, quando eu a flagrei me encarando.
E, mesmo
assim, apesar dos seus pensamentos serem tão claros através dos seus olhos
estranhos – estranhos por causa da profundidade deles; olhos marrons frequentemente
pareciam vazios em sua escuridão –, eu não conseguia ouvir nada além do silêncio
vindo do lugar onde ela estava sentada. Absolutamente nada.
Eu senti um
momento de intranquilidade.
Isso não era
uma coisa pela qual eu já tinha passado antes. Havia algo de errado comigo? Eu
me sentia exatamente do jeito que me sentia sempre. Preocupado, eu tentei
escutar mais.
Todas as
vozes que eu estive bloqueando estavam gritando na minha cabeça de repente.
“... me pergunto de que música ela gosta...
Talvez eu possa mencionar aquele CD novo...” – Mike Newton estava pensando, a duas
mesas de distância – fixado em Bella Swan.
“Olha ele olhando pra ela. Será que já não é
suficiente que ele tenha metade das garotas da escola esperando que ele...?” – Eric Yorkie estava
tendo pensamentos sofríveis, também girando ao redor da garota.
“... tão nojento. Daria pra pensar que ela é
famosa ou alguma coisa assim... Até Edward CULLEN está olhando...” – Lauren Mallory estava
tão enciumada que o rosto dela, de todas as formas, devia estar com uma cor
verde como a de jade. “E Jéssica,
ostentando a sua nova melhor amiga. Que piada...” – a garota continuou
soltando veneno com os pensamentos.
“... eu aposto que todo mundo já deve ter
perguntado isso a ela. Mas eu gostaria de falar com ela. Eu vou pensar em uma
pergunta mais original...” – Ashley Dowling meditou.
“... talvez ela esteja comigo em Espanhol...” – June Richardson,
esperançosa.
“... toneladas de coisas para fazer essa noite!
Trigonometria e o teste de inglês. Eu espero que a minha mãe...” – Ângela Weber, uma
garota tímida, cujos pensamentos eram anormalmente gentis, era a única na mesa
que não estava obcecada com essa Bella.
Eu conseguia
ouvir todos eles, ouvir cada coisinha insignificante que eles pensavam enquanto
os pensamentos passavam em suas mentes. Mas absolutamente nada vinha da nova
estudante com olhos enganosamente comunicativos.
E, é claro,
eu conseguia ouvir o que a garota dizia enquanto falava com Jéssica. Eu não
precisava ouvir pensamentos pra ouvir sua voz baixa, clara, no outro lado da
sala.
– Quem é o
garoto de cabelo ruivo? – eu a ouvi perguntar, dando uma olhadinha pelo canto
dos olhos, só pra desviar rapidamente quando viu que eu ainda a estava encarando.
Se eu tivesse
tido tempo para esperar que o som da sua voz pudesse me ajudar a conectar seus
pensamentos, que estavam perdidos em algum lugar onde eu não podia acessá-los,
eu ficaria instantaneamente desapontado. Geralmente, os pensamentos das pessoas
vinham acompanhados por um lance diferente em suas vozes físicas. Mas essa voz
baixa, tímida, não era familiar, não era nenhuma das centenas de vozes rodeando
a sala, eu tinha certeza disso. Ela era inteiramente nova.
“Oh, boa sorte, idiota!” – Jéssica pensou antes
de responder à pergunta da garota. – É o Edward. Ele é lindo, é claro, mas não
perca seu tempo. Ele não namora. Ao que parece, nenhuma das meninas daqui é
bonita o bastante pra ele. – Ela fungou.
Eu virei
minha cabeça para esconder um sorriso. Jéssica e as amigas dela não tinham ideia
de quanta sorte elas tinham por nenhuma delas ser particularmente apelativa pra
mim.
Por baixo do
humor passageiro, eu senti um estranho impulso, um que eu não entendia
claramente. Tinha alguma coisa a ver com os pensamentos maldosos de Jéssica,
dos quais a garota nova não estava consciente... Eu senti uma estranha urgência
de me meter entre elas, para proteger essa Bella Swan dos trabalhos obscuros da
mente de Jéssica. Que coisa estranha a se sentir. Tentando entender as
motivações por trás desse impulso, eu examinei a garota nova mais uma vez.
Talvez fosse
algum instinto de proteção que estava há muito tempo enterrado – o mais forte
pelo mais fraco. Essa garota parecia mais frágil do que as suas novas colegas
de classe. A pele dela era tão translúcida que era difícil de acreditar que ela
oferecia alguma resistência contra o mundo exterior. Eu podia ver o ritmo da
pulsação do sangue através das suas veias, debaixo da sua membrana clara,
pálida... Mas eu não deveria me concentrar. Eu era bom nessa vida que eu havia
escolhido, mas eu estava com tanta sede quanto Jasper e era melhor não convidar
a tentação.
Havia uma
fraca linha entre as suas sobrancelhas da qual ela não parecia ter consciência.
Isso era
inacreditavelmente frustrante! Eu podia ver claramente que ela estava tensa por
ter que sentar aqui, ter que conversar com estranhos, ser o centro das
atenções. Eu podia sentir a sua timidez pelo jeito como ela segurava seus
ombros de aparência frágil, levemente espremidos, como se ela estivesse
esperando ser empurrada a qualquer momento. E, mesmo assim, eu só podia sentir,
só podia ver, só podia imaginar. Não havia nada além de silêncio vindo dessa
garota humana muito normal. Eu não conseguia ouvir nada. Por quê?
– Vamos? –
Rosalie murmurou, interrompendo minha concentração.
Eu desviei o
olhar da garota com uma sensação de alívio. Eu não queria continuar falhando
nisso – isso me irritava. Eu não queria desenvolver nenhuma espécie de
interesse especial pelos seus pensamentos simplesmente porque eles estavam
escondidos de mim. Sem dúvida, quando eu decifrasse seus pensamentos – e eu ia encontrar uma forma de fazer isso –
eles seriam exatamente tão insignificantes e triviais quanto os pensamentos de
qualquer humano. Eles não valeriam o esforço que eu faria para alcançá-los.
– Então, a
novata já está com medo de nós? – Emmett perguntou, ainda esperando pela
resposta à sua pergunta anterior.
Eu levantei
os ombros. Ele não estava interessado o suficiente pra me pressionar por mais
informações. Eu também não deveria estar interessado.
Nós nos
levantamos da mesa e saímos do refeitório.
Emmett,
Rosalie e Jasper estavam fingindo estar no último ano; eles foram para as aulas
deles. Eu estava fingindo ser mais novo que eles. Eu fui para a minha aula de
Biologia do nível médio, preparando a minha mente para o tédio. Era duvidoso
que o Sr. Banner, um homem com uma inteligência não mais que comum, pudesse
tirar da sua aula alguma coisa que pudesse surpreender alguém que já tinha dois
graus de graduação em medicina.
Na sala de
aula, eu sentei na minha cadeira e deixei meus livros – adereços de novo; eles
não continham nada que eu já não soubesse – espalhados pela mesa. Eu era o
único aluno que tinha uma mesa só pra si. Os humanos não eram espertos o
suficiente pra saber que eles tinham
medo de mim, mas seus instintos de sobrevivência eram suficientes pra mantê-los
afastados de mim.
A sala foi se
enchendo lentamente enquanto eles voltavam do almoço. Eu me inclinei na minha
cadeira e esperei o tempo passar. De novo, eu desejei ser capaz de dormir.
Como eu
estava pensando nela, quando Ângela Weber acompanhou a garota nova pela porta,
o nome dela chamou minha atenção.
“Bella parece ser tão tímida quanto eu. Eu aposto
que hoje foi muito difícil pra ela. Eu queria poder dizer alguma coisa... Mas
provavelmente eu só ia parecer uma estúpida"...
“Isso!” – Mike Newton se virou em sua cadeira pra
observar a entrada da garota.
Ainda, do
lugar onde Bella estava, nada. O espaço vazio onde os pensamentos dela deveriam
estar me deixou irritado e enervado.
Ela se
aproximou, passando pelo corredor ao meu lado para chegar à mesa do professor.
Pobre garota; o lugar ao meu lado era o único que estava vazio.
Automaticamente
eu limpei aquele que seria o lado dela da mesa, colocando os meus livros numa
pilha. Eu duvidava que ela fosse se sentir muito confortável aqui. Ela teria
que aguentar um longo semestre – nessa aula, pelo menos. Talvez, no entanto, me
sentando ao lado dela, eu fosse capaz de desvendar os seus segredos... Não que
eu já tivesse precisado de tanta proximidade antes... Não que eu fosse
encontrar alguma coisa que valesse a pena escutar...
Bella Swan
caminhou para o fluxo do ar aquecido que soprava na minha direção do aquecedor.
O cheiro dela
me atingiu como uma bola de demolição, como um aríete. Não há nenhuma imagem
violenta o suficiente para encapsular a força do que aconteceu comigo naquele
momento.
Naquele
instante, eu não era nada nem perto do humano que um dia eu fui, nenhum traço
da humanidade na qual eu estive tentando me esconder.
Eu era um
predador. E ela era a minha presa. Não havia nada mais nesse mundo além dessa
verdade.
Não havia uma
sala lotada de testemunhas – na minha cabeça eles já eram uma avaria colateral.
O mistério dos pensamentos dela estava esquecido. Os pensamentos dela não
significavam nada, ela não iria passar muito mais tempo pensando.
Eu era um
vampiro e ela era o sangue mais doce que eu havia cheirado em oitenta anos.
Nunca
imaginei que um cheiro assim pudesse existir. Se eu soubesse que existia, eu já
teria saído procurando há muito tempo. Eu teria vasculhado o planeta por ela.
Eu podia imaginar o sabor...
A sede
queimou a minha garganta como fogo. Minha boca estava torrada e desidratada. O
fluxo fresco de veneno não fez nada para dissipar essa sensação. Meu estômago
revirou com a fome que era um eco da sede. Meus músculos se contraíam e
descontraíam.
Nem um
segundo havia se passado. Ela ainda estava andando no mesmo passo que a havia
colocado no vento em minha direção.
Enquanto os
pés dela tocavam o chão, seus olhos escorregaram na minha direção. Um movimento
que ela claramente estava esperando que fosse furtivo. O olhar dela encontrou o
meu, e eu me vi refletido no grande espelho dos seus olhos.
O choque pelo
rosto que eu vi lá salvou a vida dela por mais alguns momentos.
Ela não
facilitou as coisas. Quando ela viu a expressão no meu rosto, o sangue apareceu
nas bochechas dela de novo, deixando a pele dela com a cor mais deliciosa que
eu já havia visto. O cheiro era uma grossa neblina no meu cérebro. Eu mal
conseguia pensar através dela. Meus pensamentos se enfureceram, resistindo ao
controle, incoerentes.
Agora ela
caminhava mais rapidamente, como se ela entendesse que precisava escapar. A
pressa dela a deixou desastrada – ela tropeçou e se inclinou para frente, quase
caindo na garota que se sentava na minha frente. Vulnerável, fraca. Até mais que
o normal para um humano.
Eu tentei me
concentrar no rosto que havia visto nos olhos dela, um rosto que eu reconhecia
com nojo. O rosto do monstro em mim – o rosto que eu havia afastado com décadas
de esforço e disciplina inflexível. Como ele voltara à superfície com
facilidade agora!
O cheiro me
invadiu novamente, ferindo os meus pensamentos e quase me fazendo pular do meu
lugar.
Não.
Minha mão se
agarrou à beirada da mesa enquanto eu tentava me segurar na cadeira. A madeira
não ajudou na tarefa. Minha mão quebrou a estrutura e escapuliu, cheia de
restos de fuligem, deixando a marca dos meus dedos cravadas na madeira que
restou.
Destruir as
provas. Essa era a regra fundamental. Eu rapidamente pulverizei as beiradas com
as pontas dos dedos, sem deixar nada além de um buraco e uma pilha de fuligem
no chão, que eu limpei com o meu pé.
Destruir as
provas. Avarias colaterais...
Eu sabia o
que tinha que acontecer agora. A garota teria que vir se sentar ao meu lado e
eu teria que matá-la.
Os inocentes
espectadores na sala, outras dezoito crianças e um homem, não poderiam mais ter
permissão de sair dessa sala, tendo visto o que eles veriam em breve.
Eu enrijeci
com o pensamento do que eu precisava fazer. Mesmo em meus piores dias, eu nunca
havia cometido esse tipo de atrocidade. Eu nunca matei inocentes em nenhuma
dessas oito décadas. E agora eu planejava matar vinte deles de uma só vez.
O rosto do
monstro no espelho zombou de mim.
Mesmo com
parte de mim se afastando desse monstro, a outra parte estava fazendo planos.
Se eu matasse
a garota primeiro, eu só teria uns quinze ou vinte segundos com ela antes que
os outros humanos na sala começassem a reagir. Talvez um pouco mais de tempo,
se eles não percebessem logo no início o que eu estava fazendo. Ela não teria
tempo de gritar ou de sentir dor; eu não ia matá-la cruelmente. Pelo menos isso
eu podia dar a essa estranha com sangue horrivelmente desejável.
Mas depois eu
teria que impedi-los de escapar. Eu não precisaria me preocupar com as janelas,
elas eram altas e pequenas demais para servir como escapatória pra alguém. Só a
porta – a bloqueie e eles ficarão presos.
Seria mais
lento e difícil tentar matar todos eles quando estivessem em pânico e se
misturando, se movimentando no caos. Nada impossível, mas haveria muito mais
barulho. Daria tempo para muitos gritos. Alguém poderia ouvir... E eu seria
obrigado a matar ainda mais inocentes nessa hora negra.
E o sangue
dela iria esfriar enquanto eu estivesse assassinando os outros.
O cheiro me
castigou, fechando a minha garganta com uma dor seca...
Então seriam
as testemunhas primeiro.
Eu planejei
tudo na minha cabeça. Eu estaria no meio da sala, na fila mais afastada do
fundo. Pegaria o lado direito primeiro. Eu podia morder quatro ou cinco
pescoços por segundo, eu estimei. Não seria barulhento. O lado direito seria o
lado de sorte; eles não me veriam chegando. Me movendo pra frente e pra trás
até a fila esquerda, iria me levar, no máximo, cinco segundos pra acabar com
todas as vidas nessa sala.
Tempo
suficiente pra Bella Swan ver, brevemente, o que estava esperando por ela.
Tempo suficiente para ela sentir medo. Tempo suficiente, talvez, se o choque
não a congelasse no lugar, para ela tentar gritar. Um gritinho suave não faria
ninguém aparecer correndo.
Eu respirei
fundo, e o cheiro era como um fogo correndo nas minhas veias secas, queimando
por dentro do meu peito pra consumir qualquer impulso de bondade do qual eu
ainda fosse capaz.
Ela estava se
virando agora. Em alguns segundos, ela se sentaria a apenas alguns centímetros
de mim.
O monstro na
minha cabeça sorriu com a antecipação.
Alguém fechou
um fichário ao meu lado. Eu não me virei pra ver qual dos humanos predestinados
havia feito isso, mas o movimento mandou uma onda de vento sem cheiro na minha
direção. Por um curto segundo, eu fui capaz de pensar com clareza. Naquele
precioso segundo, eu vi dois rostos na minha cabeça, lado a lado.
Um era o meu,
ou o que ele foi um dia: o monstro de olhos vermelhos que já havia matado
tantas pessoas que já havia parado de contar o número. Assassinatos
racionalizados, justificados. Um assassino de assassinos, um assassino de
outros monstros, menos poderosos. Era um complexo de ser Deus, eu sabia disso –
decidir quem merecia uma sentença de morte. Era um compromisso comigo mesmo. Eu
havia me alimentado de sangue humano, mas somente humanos em sua definição mais
fraca. As minhas vítimas eram, em seus violentos dias negros, tão humanos
quanto eu era.
O outro rosto
era o de Carlisle.
Não havia
nenhuma semelhança entre os dois rostos. Eles eram como o dia mais claro e a
noite mais escura.
Não havia
motivo pra que houvesse uma semelhança. Carlisle não era meu pai no sentido
biológico básico. Nós não tínhamos feições semelhantes. A similaridade na nossa
cor era apenas por causa do que éramos; todos os vampiros tinham a mesma cor
pálida como gelo. A similaridade da cor dos nossos olhos era outra coisa – uma
reflexão da nossa escolha mútua.
E, mesmo
assim, apesar de não haver bases pra uma semelhança, eu imaginava que o meu rosto
havia começado a refletir o dele, até certo ponto, nos últimos estranhos
setenta anos em que eu abracei a escolha dele e segui os seus passos. Meu rosto
não havia mudado, mas para mim parecia que parte da sabedoria dele tinha
marcado a minha expressão, que um pouco da compaixão dele podia ser traçada nos
contornos da minha boca, e que as suas sugestões de paciência estavam evidentes
nas minhas sobrancelhas.
Todas essas
pequenas melhorias estavam escondidas no rosto do monstro. Em alguns instantes,
não haveria mais nada que pudesse refletir os anos que eu havia passado com o
meu criador, o meu mentor, o meu pai em todas as formas que se podia contar. Meus
olhos brilhariam vermelhos como os do diabo; todas as semelhanças estariam
perdidas pra sempre.
Na minha
cabeça, os olhos bondosos de Carlisle não me julgavam. Eu sabia que ele me
perdoaria por esse terrível ato que eu iria cometer. Porque ele me amava.
Porque ele pensava que eu era melhor do que eu era de verdade. E ele
continuaria me amando, mesmo agora, quando eu provasse que ele estava errado.
Bella Swan se
sentou ao meu lado, seus movimentos eram rígidos e estranhos – com medo? –, e o
cheiro do sangue dela criou uma inexorável nuvem ao meu redor.
Eu iria
provar que meu pai estava errado sobre mim. A tristeza desse fato doía quase
tanto quanto o fogo na minha garganta.
Eu me afastei
dela com repulsa – revoltado com o monstro implorando pra atacá-la.
Por que ela
tinha que vir para cá? Por que ela tinha que existir? Por que ela tinha que
acabar com o pouco de paz que eu tinha nessa minha ‘não vida’? Por que essa
humana agravante tinha que ter nascido? Ela ia me arruinar.
Eu desviei o
meu rosto pra longe dela, enquanto uma súbita fúria, um aborrecimento
irracional passou por mim.
Quem era essa criatura? Por que eu, por que
agora? Por que eu tinha que perder tudo só porque ela escolheu aparecer nessa
cidade improvável?
Por que ela
tinha que vir pra cá?!
Eu não queria
ser o monstro! Eu não queria matar essa sala cheia de crianças indefesas! Eu
não queria perder tudo o que eu havia conseguido com uma vida inteira de
sacrifícios e negações!
Eu não faria
isso. Ela não ia me obrigar.
O cheiro era
o problema, o cheiro odiosamente apelativo do sangue dela. Se houvesse alguma
forma de resistir... Se apenas um sopro de ar fresco pudesse limpar a minha
cabeça...
Bella Swan
balançou os seus longos, grossos cabelos cor de mogno na minha direção.
Ela era
louca? Era como se ela estivesse encorajando o monstro! Cutucando-o.
Não havia
nenhuma brisa amigável pra afastar o cheiro de mim agora. Tudo estaria perdido
em breve.
Não, não
havia nenhuma brisa amigável. Mas eu não precisava
respirar.
Eu parei o
fluxo de ar para os meus pulmões; o alívio foi instantâneo, mas incompleto. Eu
ainda tinha a memória do cheiro na minha cabeça, o gosto no fundo da minha
língua. Eu não seria capaz de resistir por muito mais tempo. Mas talvez eu
pudesse resistir por uma hora. Uma hora. Só o tempo suficiente pra sair dessa
sala cheia de vítimas, vítimas que talvez não precisassem ser vítimas. Se eu pudesse resistir durante uma curta
hora.
Ficar sem
respirar era uma sensação desconfortável. Meu corpo não precisava de oxigênio,
mas isso ia contra os meus instintos. Eu me valia desse sentido muito mais do
que de qualquer outro quando estava estressado. Ele me guiava nas caças, era o
primeiro a me avisar em casos de perigo. Eu não cruzava com alguma coisa tão
perigosa quanto eu com frequência, mas a autopreservação era tão forte na minha
espécie quanto nos humanos.
Desconfortável,
mas suportável. Mais suportável do que sentir o cheiro dela e não afundar os
meus dentes naquela pele bonita, fina, transparente, até o quente, molhado,
pulsante...
Uma hora! Só
uma hora. Eu não devo pensar no cheiro, no gosto.
A garota
silenciosa manteve o cabelo dela entre nós, se inclinando para frente até que
ele se espalhou no classificador dela. Eu não conseguia ver o seu rosto para
tentar ler as emoções dela através de seus olhos claros, profundos. Era por
isso que ela deixava as mechas entre nós? Para esconder aqueles olhos de mim?
Por medo? Timidez? Para esconder seus segredos de mim?
A minha
antiga irritação por ser incapacitado pelos seus pensamentos sem som era fraca
e pálida em comparação à necessidade – e ao ódio – que me possuía agora. Eu
odiava essa mulher/criança ao meu lado, a odiava com todas as forças que eu
devotava ao meu antigo eu, meu amor pela minha família, meus sonhos de ser
melhor do que eu era... Odiá-la, odiar o que ela me fazia sentir – isso ajudou
um pouco. Eu me agarrei a qualquer emoção que me distraísse do pensamento de
qual seria o gosto dela...
Ódio e
irritação. Impaciência. Será que essa hora não passaria nunca?
E quando essa
hora terminasse... Então ela sairia dessa sala. E eu faria o quê?
Eu podia me
apresentar. Olá, meu nome é Edward Cullen.
Posso te acompanhar até a sua próxima
aula?
Ela diria
sim. Era a coisa educada a se fazer. Mesmo já sentindo medo de mim, como eu
suspeitava que ela sentia, ela iria me acompanhar convencionalmente e caminhar
ao meu lado. Seria fácil o suficiente guiá-la na direção errada. Havia um
pedaço da floresta que se esticava como um dedo e tocava o estacionamento pelos
fundos. Eu podia dizer a ela que havia esquecido um livro no meu carro...
Será que
alguém notaria que eu fui a última pessoa com a qual ela foi vista?
Estava
chovendo, como sempre; dois casacos de chuva escuros se movendo na direção
errada não chamariam tanta atenção, nem me denunciariam.
A não ser
pelo fato de eu não ser o único estudante que estava consciente dela hoje –
apesar de nenhum estar tão devastadoramente consciente dela quanto eu. Mike
Newton, em particular, estava consciente de cada movimento que ela fazia se
mexendo na cadeira – ela estava desconfortável ao meu lado, assim como qualquer
um estaria, assim como eu já esperava antes que o cheiro dela destruísse todos
os traços de preocupação por caridade. Mike Newton repararia se ela deixasse a sala
comigo.
Se eu pudesse
aguentar uma hora, será que eu poderia aguentar duas?
Eu vacilei
com a dor da queimação.
Ela iria para
uma casa vazia. O chefe de polícia Swan trabalhava o dia inteiro. Eu conhecia a
casa dele, assim como eu conhecia todas as casinhas da cidade. A casa dele
ficava acima da encosta da floresta, sem vizinhos próximos. Mesmo se ela
tivesse tempo pra gritar, e ela não teria, não haveria ninguém por perto pra
ouvir.
Essa era a
forma mais responsável de lidar com isso. Eu havia aguentado sete décadas sem
sangue humano. Se eu segurasse a respiração, eu poderia aguentar duas horas. E
quando eu a encontrasse sozinha, não haveria chances de alguém mais se
machucar. E não há motivo pra apressar a
experiência, o monstro em minha cabeça concordou.
Estava me
enganando ao pensar que, salvando os dezenove humanos dessa sala com esforço e
paciência, eu seria menos monstro quando matasse essa garota inocente.
Apesar de
odiá-la, eu sabia que meu ódio era injusto. Sabia que quem eu realmente odiava
era eu mesmo. Eu odiaria a nós dois muito mais quando ela estivesse morta.
Consegui
passar a hora desse jeito – imaginando as melhores formas de matá-la. Tentei
evitar pensar no ato de verdade. Isso
seria demais pra mim; eu acabaria perdendo essa batalha e matando todo mundo
que eu visse. Então eu planejei a estratégia e nada mais. Isso me ajudou a
passar a hora.
Uma vez,
quase no final, ela olhou pra mim pela fluída parede dos seus cabelos. Eu podia
sentir o ódio injustificado queimando em mim quando eu olhei nos olhos dela –
eu vi a minha reflexão em seus olhos assustados. O sangue pintou suas bochechas
antes que ela pudesse se esconder em seus cabelos de novo, e eu quase me
desfiz.
Mas o sinal
tocou. Salva pelo gongo – que clichê. Nós dois estávamos salvos. Ela, salva de
sua morte. Eu, salvo por um curto período de tempo de ser a criatura dos
pesadelos que eu temia e não suportava.
Não consegui
caminhar tão devagar quanto devia quando saí da sala. Se alguém estivesse
olhando pra mim, poderia ter suspeitado que tinha alguma coisa anormal no jeito
como eu me movia. Ninguém estava prestando atenção em mim. Todos os
pensamentos humanos ainda rondavam a garota que estava condenada a morrer em
pouco mais de uma hora.
Eu me escondi
no meu carro.
Não gostava
de pensar em mim mesmo tendo que me esconder. Isso soava muito covarde. Mas
esse era inquestionavelmente o caso agora.
Eu não estava
suficientemente disciplinado pra ficar perto de humanos agora. Me concentrar
tanto em não matar um deles havia acabado com todos os meus recursos para
resistir a matar os outros. Que desperdício isso seria. Se eu tinha que dar o
braço a torcer para o monstro, eu podia pelo menos fazer o desafio valer a
pena.
Coloquei o CD
de música que geralmente me acalmava, mas ele fez pouco por mim agora. Não, o
que mais ajudou agora foi o ar frio, molhado, limpo que entrava com a chuva
pelas minhas janelas abertas. Apesar de eu conseguir me lembrar do cheiro do
sangue de Bella Swan com perfeita clareza, inalar o ar limpo era como lavar o
interior do meu corpo contra as infecções.
Eu estava são
de novo. Podia pensar de novo. Podia lutar de novo. Podia lutar contra o que eu
não queria ser.
Eu não tinha
que ir até a casa dela. Eu não tinha que matá-la. Obviamente, eu era uma
criatura racional, uma criatura que pensava, e eu tinha uma escolha. Sempre
havia uma escolha.
Não era isso
o que parecia na sala de aula... mas agora eu estava longe dela. Talvez, se a
evitasse muito, muito cuidadosamente, não houvesse motivos para a minha vida
mudar. Eu tinha as coisas sob controle do jeito como elas eram agora. Por que
deveria deixar alguém agravante e delicioso arruinar isso?
Eu não tinha que desapontar o meu pai. Não
tinha que causar estresse à minha mãe, preocupação... dor. Sim, isso machucaria
minha mãe adotiva também. E Esme era tão gentil, tão delicada e suave. Causar
dor a alguém como Esme era verdadeiramente indesculpável.
Era irônico
que eu tivesse tido vontade de proteger essa garota da ameaça desprezível, sem
dentes, dos pensamentos de Jéssica Stanley. Eu era a última pessoa que iria
querer servir de protetor de Isabella Swan. Ela jamais precisaria de proteção
de alguma coisa tanto quanto ela precisava de mim.
Onde estava
Alice? Me perguntei de repente. Ela não havia me visto matar a garota Swan de
alguma forma? Por que ela não apareceu para ajudar – para me parar ou para me
ajudar a limpar as provas, o que quer que fosse? Será que ela estava tão
preocupada em livrar
Jasper de problemas que ela havia deixado passar essa
possibilidade muito mais horrorosa? Será que eu era mais forte do que pensava?
Será que realmente não teria feito nada com a garota?
Não. Eu sabia
que isso não era verdade. Alice deve estar se concentrando bastante em Jasper.
Procurei na
direção em que sabia onde ela estaria, no pequeno prédio que era usado para as
aulas de inglês. Não levei muito tempo para localizar sua "voz"
familiar. E estava certo. Todos seus pensamentos estavam voltados pra Jasper,
vendo todas as suas pequenas escolhas a cada minuto.
Desejei poder
pedir seus conselhos, mas, ao mesmo tempo, estava feliz que ela não soubesse do
que eu era capaz. Que ela não soubesse do massacre que eu tinha planejado na
hora anterior.
Eu senti uma
nova queimação pelo meu corpo – a da vergonha. Não queria que nenhum deles
soubesse.
Se pudesse
evitar Bella Swan, se pudesse conseguir não matá-la – mesmo enquanto pensava
nisso, o monstro trincava e rangia os dentes, cheio de frustração – então
ninguém teria que saber. Se eu pudesse manter distância do cheiro dela...
Não havia
razão para não tentar, pelo menos. Fazer uma boa escolha. Tentar ser o que
Carlisle pensava que eu era.
A última hora
de escola já estava quase acabada. Decidi começar a colocar meu novo plano em
ação imediatamente. Era melhor do que ficar sentado no estacionamento, onde ela
poderia passar a qualquer minuto e arruinar minha tentativa. De novo, senti o
ódio injusto por essa garota. Eu odiava que ela tivesse esse poder inconsciente
sobre mim. Que ela conseguisse me fazer ser algo que eu repugnava.
Caminhei
rapidamente – um pouco rapidamente demais, mas não havia testemunhas – através
do pequeno campus até a secretaria. Não havia razão pra Bella Swan cruzar o meu
caminho. Ela seria evitada como a praga que ela era.
A secretaria
estava vazia, com exceção da secretária, a única que eu queria ver.
Ela não
reparou na minha entrada silenciosa.
– Sra. Cope?
A mulher com
o cabelo tingido de vermelho olhou pra cima e os olhos dela se arregalaram. Eu
sempre os pegava de surpresa, pequenos marcadores que eles não conseguiam
entender, não importava quantos de nós eles já tivessem visto.
– Ah – Ela
ofegou, um pouco corada. Ela alisou sua blusa. “Boba” – ela pensou consigo mesma. “Ele quase é novo o suficiente pra ser meu filho. Novo demais pra eu
pensar nele desse jeito...” – Olá, Edward. O que eu posso fazer por você? –
Seus cílios flutuaram por trás das lentes dos seus grossos óculos.
Desconfortável.
Mas eu sabia ser charmoso quando queria ser. Era fácil, já que eu era capaz de
saber instantaneamente como qualquer tom ou gesto meu era recebido.
Eu me
inclinei para frente, encontrando seu olhar como se estivesse olhando
profundamente dentro dos seus olhos marrons rasos, pequenos. Os pensamentos
dela já estavam em
polvorosa. Isso iria ser simples.
– Estava me
perguntando se você pode me ajudar com meus horários – eu disse com minha voz
suave que era reservada para não assustar humanos.
Ouvi o ritmo
do coração dela acelerar.
– É claro,
Edward. Como eu posso ajudar? – “Jovem
demais, jovem demais” – ela repetiu para si mesma. Errada, é claro. Eu era
mais velho que o avô dela. Mas, de acordo com a minha carteira de motorista,
ela estava certa.
– Estava
imaginando se eu poderia trocar a minha aula de Biologia para o nível mais alto
de Ciências? Física, talvez?
– Algum
problema com o Sr. Banner, Edward?
– Absolutamente
não, é só que eu já estudei esse material...
– Naquela
escola acelerada que você estudou no Alaska, certo. – Os lábios finos dela se
torceram enquanto ela considerava isso. “Eles
todos já deveriam estar na faculdade. Eu já ouvi todos os professores
reclamando. Notas perfeitas, nunca hesitavam antes de responder, nunca
respondiam errado num teste – como se eles encontrassem uma forma de colar em
todos os assuntos. O Sr. Varner prefere admitir que tem alguém colando do que
dizer que existe alguém mais inteligente que ele... Eu aposto que a mãe deles
os instrui...” – Na verdade, Edward, a aula de física já está muito cheia
agora. O Sr. Banner odeia ter mais de vinte e cinco alunos na sala de aula.
– Eu não
daria nenhum problema.
“É claro que não. Não um Cullen perfeito.” – Eu sei disso, Edward.
Mas simplesmente não tem lugares suficientes...
– Então eu
posso desistir da aula? Eu posso usar o período pra estudos independentes.
– Desistir de
Biologia? – A boca dela se abriu. – “Isso
é loucura. Quão difícil pode ser ver
um assunto que você já viu? Deve
haver algum problema com o Sr. Banner. Eu me pergunto se devo falar sobre isso
com Bob” – Você não teria créditos suficientes pra se formar.
– Eu posso
acompanhar no ano que vem.
– Talvez você
devesse falar com os seus pais sobre isso.
A porta se
abriu atrás de mim, mas quem quer que fosse não estava pensando em mim, então
eu ignorei a chegada e me concentrei na Sra. Cope. Eu me inclinei um pouco mais
pra perto e abri meus olhos um pouco mais. Isso funcionaria melhor se eles
estivessem dourados em vez de pretos. A negritude assustava as pessoas, tal
como devia.
– Por favor,
Sra. Cope? – Eu fiz minha voz ficar o mais suave e convincente que eu pude – e isso
podia ser consideravelmente convincente. – Não há outra seção à qual eu possa
me mudar? Será que não existe nenhuma vaga em aberto em algum lugar? Biologia
no sexto horário não pode ser a única opção...
Eu sorri pra
ela, tomando cuidado pra não mostrar os meus dentes demais pra não assustá-la,
deixando a expressão se suavizar no meu rosto.
O coração
dela bateu mais rápido. “Jovem demais” –
ela dizia para si mesma freneticamente. – Bem, talvez eu possa falar com Bob –
quero dizer, o Sr. Banner. Eu posso ver se...
Um segundo
foi o que levou para tudo mudar: a atmosfera na sala, a minha missão aqui, a
razão pela qual eu me inclinava para a mulher de cabelos vermelhos... O que
havia sido por um propósito, agora era por outro.
Um segundo
foi só o que demorou pra Samantha Wells abrir a porta e jogar uma assinatura,
que ela tinha pegado, no cesto ao lado da porta e correr para fora de novo, com
pressa de sair da escola. Um segundo foi tudo o que levou para uma rajada
repentina de vento passar pela porta e vir me atingir. Um segundo foi o tempo
que levei pra me dar conta de por que aquela primeira pessoa não havia me
atrapalhado com os seus pensamentos.
Eu me virei,
apesar de não precisar ter certeza. Me virei lentamente, lutando pra controlar meus
músculos que se rebelavam contra mim.
Bella Swan estava
com as costas pressionadas na parede ao lado da porta, com um papel agarrado
nas mãos. Os olhos dela estavam ainda maiores do que o normal quando ela
percebeu o meu olhar feroz, desumano.
O cheiro dela
saturou cada pequena partícula de ar na sala pequena, quente. Minha garganta
ficou em chamas.
O monstro
olhou pra mim pelo espelho dos olhos dela de novo, uma máscara do mal.
Minha mão
hesitou no ar em cima do balcão. Eu não teria que olhar para bater com a cabeça
da Sra. Cope na mesa dela com força suficiente pra matá-la. Duas vidas, ao invés
de vinte. Uma troca.
O monstro
esperou ansiosamente, faminto, que eu fizesse isso.
Mas sempre
havia uma escolha – tinha que haver.
Parei o
movimento dos meus pulmões e fixei o rosto de Carlisle na frente dos meus
olhos. Me virei de volta pra olhar para a Sra. Cope e ouvi a surpresa interna
dela com a mudança da minha expressão. Ela se afastou de mim, mas o medo dela
não saiu em palavras coerentes.
Usando todo o
autocontrole que eu havia aprendido em minhas décadas de autonegação, fiz minha
voz ficar uniforme e suave. Havia ar o suficiente nos meus pulmões pra falar
uma última vez, apressando as palavras.
– Então deixa
pra lá. Estou vendo que é impossível. Muito obrigado por sua ajuda.
Eu virei e me
lancei porta afora, tentando não sentir o calor do sangue quente do corpo da
garota enquanto passava a apenas alguns centímetros dela.
Não parei até
estar no meu carro, me movendo rápido demais em todo o caminho até lá. A
maioria dos humanos já havia ido embora, então não havia muitas testemunhas.
Eu ouvi um
garoto do segundo ano, D.J. Garrett, notar e depois deixar pra lá...
“De onde foi que o Cullen saiu? Foi como se ele
tivesse aparecido com o vento... Lá vou eu com minha imaginação de novo. Minha
mãe sempre diz"...
Quando entrei
em meu Volvo, os outros já estavam lá. Tentei controlar minha respiração, mas eu
estava asfixiando por ar fresco como se estivesse sufocando.
– Edward? –
Alice perguntou com uma voz alarmada.
Eu só
balancei a minha cabeça pra ela.
– Que diabos
aconteceu com você? – Emmett quis saber, distraído, por um momento, por Jasper
não estar no clima de aceitar a sua revanche.
Ao invés de
responder, dei a ré no carro. Eu tinha que sair daquele estacionamento antes
que Bella me seguisse aqui também. Meu demônio pessoal me perseguindo... Eu
virei o carro e acelerei. Já estava nos quarenta antes de chegar à estrada. Na
estrada, eu fiz setenta antes de chegar à esquina.
Sem olhar, eu
sabia que Emmett, Rosalie e Jasper se viraram todos para olhar para Alice. Ela
levantou os ombros. Ela não podia ver o que havia se passado, só o que estava
por vir.
Ela olhava
pra mim agora. Nós dois estávamos processando o que ela viu em sua cabeça
agora, e nós dois estávamos surpresos.
– Você vai
embora? – ela sussurrou.
Os outros
olhavam pra mim agora.
– Eu vou? –
eu assoviei através dos meus dentes.
Ela viu nessa
hora, enquanto a minha decisão ia para outro caminho e outra escolha virava o
meu futuro pra uma direção mais escura.
– Ah.
Bella Swan
morta. Meus olhos brilhando, vermelhos com o sangue fresco. A procura que se
seguiria. O tempo cuidadoso que nos levaria a esperar até que fosse seguro sair
e começar tudo de novo...
– Ah – ela
disse de novo. A imagem ficou mais específica. Eu vi o interior da casa do
Chefe Swan pela primeira vez, vi Bella na pequena cozinha com os armários
amarelos, com as costas viradas pra mim enquanto eu a perseguia na escuridão...
Deixando seu cheiro me guiar até ela...
– Pare! – eu
rugi, incapaz de aguentar mais.
– Desculpe –
ela cochichou com os olhos arregalados.
O monstro
gostou.
E a visão na
cabeça dela mudou de novo. Uma avenida vazia à noite, as árvores ao lado dela
cobertas de neve, brilhando com os quase duzentos quilômetros por hora.
– Eu vou
sentir sua falta – ela disse. – Não importa quão curto seja o tempo que você
vai ficar fora.
Emmett e
Rosalie trocaram um olhar apreensivo.
Nós já
estávamos quase na curva da longa estrada que levava à nossa casa.
– Nos deixe
aqui – Alice sugeriu. – Você deve dizer isso a Carlisle pessoalmente.
Balancei a
cabeça e o carro guinchou quando parou de repente.
Emmett,
Rosalie e Jasper saíram silenciosamente; eles fariam Alice explicar tudo quando
eu fosse embora. Alice tocou o meu ombro.
– Você vai
fazer a coisa certa – ela murmurou. Não era uma visão dessa vez, era uma ordem.
– Ela é a única família de Charlie Swan. Isso o mataria também.
– Sim – eu
disse, concordando apenas com a última parte.
Ela saiu pra
se juntar aos outros, as sobrancelhas dela estavam se juntando por causa da
ansiedade. Eles se enfiaram nas matas, desaparecendo de vista antes que eu
pudesse virar o carro.
Acelerei de
volta à cidade, e eu sabia que as visões na cabeça de Alice estariam passando
de negras a claras num piscar de olhos. Enquanto eu corria pra Forks com mais
de noventa quilômetros por hora, não tinha certeza do que estava fazendo. Dizer
adeus ao meu pai? Ou abraçar o monstro que havia dentro de mim? A estrada
passava voando por baixo dos meus pneus.